"Se algum dia você me perguntar 'ou eu ou o Flamengo', eu escolho o Flamengo". É com a paixão e a provocação no centro de tudo que o documentário 'Fla x Flu', dirigido por Renato Terra, estreia no Festival de Cinema do Rio, que vai até o próximo dia 10. Histórias de anônimos e famosos se misturam para contar um pouco do centenário do clássico, comemorado em 2012, e criar um clima de mesa de bar. Tudo isso com direito a choro de ex-craques e Romário dividido entre sua relação com as camisas rubro-negra e tricolor.

Ao contrário de muitos documentários onde a intenção é se distanciar do objeto filmado, em 'Fla x Flu', que começou a ser produzido no final de 2011, a parcialidade é assumida e provoca cenas memoráveis. Torcedor do time das Laranjeiras, Renato Terra convidou o amigo e jornalista Luiz Antônio Ryff para realizar as entrevistas com flamenguistas. Em determinado momento, a dupla troca de lugar discretamente. A simples presença do diretor com a camisa rival faz com que um dos rubro-negros comece a chorar por lembranças do passado.

"Pensei que seria mais legal falar sobre a paixão do que realizar um catálogo de gols, estatísticas e informação. A informação está presente, mas não é o objetivo. Ele é bem passional, leve e acho isso vai atrair muitas mulheres e até pessoas que não torcem para Flamengo ou Fluminense. Acho que a história que simboliza da melhor maneira é a do urubu", disse Terra.

Urubu invasor
Apesar da presença de nomes de peso, como os ex-jogadores Assis, Leandro, Junior e Romário, é o trabalho de pesquisa que impressiona ao encontrar ótimas histórias de torcedores comuns. A produtora Carolina Bevenides ficou meses em pontos movimentados do Rio segurando um cartaz com a inscrição 'algum Fla x Flu marcou sua vida?'. O filme entrevista o rubro-negro responsável por levar um urubu ao clássico de 1983 dentro de um instrumento musical. O animal invadiu o campo, paralisou o jogo e só foi capturado após vários minutos pelo ex-zagueiro tricolor Aldo. O trágico destino da ave, entregue a um tricolor e empalhada, é um dos pontos altos.

Além dos contos improváveis, como um casamento cancelado pelo fato do noivo ter se atrasado no Fla x Flu e um terço 'responsável' pelo gol de barriga de Renato Gaúcho, os depoimentos transitam entre temas como a característica e preconceitos com cada clube, e memórias afetivas.

Ao comentar sobre o gol que deu o título Carioca de 1983 para a equipe das Laranjeiras, Assis vai às lágrimas. O choro de Junior e do filho Rodrigo, então com cinco anos, também emociona. O garoto havia pedido que o pai fosse campeão atuando no Brasil e tem o desejo realizado no Carioca de 1991.

Renato fora e Romário dividido
A ausência mais sentida no documentário é do técnico do Grêmio e ídolo das duas torcidas, Renato Gaúcho. O ex-atacante foi contatado pela produção, mas problemas na agenda fizeram com que o autor do gol de barriga de 1995 não entrasse no longa. Ele seria o segundo jogador a depor com as duas camisas. O outro foi o atacante Romário, que se declara torcedor do America-RJ e elogiou características dos rivais, além de demonstrar a usual imodéstia ao falar dos seus feitos em campo.

"Joguei bem por Flamengo e Fluminense. Mas também joguei bem por Vasco, America (risos). A torcida que mais empurra o jogador durante a partida é a do Flamengo. Mas a torcida mais elegante, que tem uma maneira bonita de apoiar o time é a do Fluminense", disse o atual deputado federal no documentário.