Técnico do Aucas quer rebeldia e audácia contra o Flamengo: "Se fizer o mesmo, vão te comer vivo"

4/4/2023 10:45

Técnico do Aucas quer rebeldia e audácia contra o Flamengo: "Se fizer o mesmo, vão te comer vivo"

Técnico do Aucas quer rebeldia e audácia contra o Flamengo: Se fizer o mesmo, vão te comer vivo
César Farías em entrevista ao ge em Assunção: "Não viemos a passeio" — Foto: Raphael Zarko

O técnico venezuelano César Farías fez 50 anos no dia 7 de março. No ano passado levou o Aucas, adversário desta quarta-feira, às 19h, na estreia do Flamengo na Libertadores, ao primeiro título da liga nacional do Equador. Numa campanha com direito a 22 jogos de invencibilidade.



Com duas passagens pela seleção da Bolívia - dirigiu "La Verde" nas últimas Eliminatórias -, ele foi quarto lugar da Copa América 2011 com a Venezuela - a melhor campanha da história da "Vinotinto" -, e, em 2004, levou o Deportivo Táchira às quartas de final da Libertadores (eliminado pelo São Paulo).


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Em entrevista ao ge, na última semana, dia seguinte ao sorteio da Libertadores que o colocou de cara para o atual campeão Flamengo, Farías reconhece o domínio dos clubes brasileiros na principal competição continental. Mas ele diz que comanda, hoje, o melhor elenco da carreira.

Confira a entrevista com César Farías:

ge: O senhor deixou a Bolívia e logo assinou com o Aucas. O que o levou ao futebol equatoriano?

César Farías: O Aucas me procurou antes de terminar a última data dupla das Eliminatórias. Tínhamos Colômbia e Brasil para enfrentar. Disse que não sairia antes de terminar a competição. Havia outras possibilidades, clubes que estavam na Sul-americana e Libertadores, antes da data Fifa. Não pude ir. Tinha que cumprir minha palavra. Mas o Aucas me esperou, me convenceu. Tive reunião com o presidente, disse que queria dar um salto de qualidade. Temos um grande diretor esportivo, que trabalhou 12 anos no Barcelona, trabalhou no Grupo City. Mudaram toda a estrutura, nos campos, nas concentrações, no prédio administrativo. Reforçamos a equipe, a ponto de ganhar a competição no Equador pela primeira vez. Hoje é a terceira liga da América do Sul, o que nos faz chegar com bom ritmo na Libertadores. A gente vê o crescimento do futebol equatoriano, com muitos jovens para projetar. Tenho um presidente ambicioso, com plano executivo de ir melhorando dia a dia.

O treinador conquistou a primeira vitória da Venezuela contra o Brasil na história em amistoso de 2008 e classificou pela primeira vez os venezuelanos para Mundial sub-20

ge: O senhor vai completar um ano no Aucas e conquistou um título inédito. Como foi esse período?

Em 28 de abril faço um ano de Aucas. Tem sido maravilhoso, recentemente perdemos uma partida pela liga, mas ficamos invictos por 22 jogos, chegamos na final e ganhamos do Barcelona. Formamos uma sinergia muito interessante com o clube, com a torcida e podendo projetar um plano de cinco anos no qual estamos buscando perfil de jogador importante.

ge: Que perfil é esse? O seu time perdeu alguns jogadores que foram campeões nesta conquista inédita do Aucas, mas contratou outros.

Primeiro, fomos atrás dos equatorianos, buscando jogadores que tinham processo de seleção de base. Que tivessem jogado Libertadores, Copa Sul-Americana, que tivessem Concachampions. E então baixamos a média de idade. Depois fomos pelos estrangeiros com o mesmo perfil. Jogadores que tivessem participado de seleções, como um que vocês conhecem, o Otero, que já jogou Libertadores. O Aucas vai estrear na Libertadores. Então temos que buscar experiência com os jogadores. Nós temos experiências. Trabalhei na Índia, no México, no Tijuana, na Venezuela, no Paraguai e na Bolívia, além dos 10 anos de seleção que tive na Venezuela e na Bolívia.

ge: Como foi essa preparação para a Libertadores?

Trabalhamos desde 6 de dezembro com muito afinco, esperando o sorteio, esperando justamente essa circunstância. Fizemos muitíssimos jogos amistosos. Fomos a Lima e fizemos quatro partidas, fomos a Bogotá e jogamos mais quatro vezes. Na Colômbia também. Jogamos na fronteira contra o Unión Comercio, do Peru.

"Buscamos um pouco também aprender a jogar de visitante, internacionalizar a equipe. Porque somos uma equipe muito forte como mandante, que joga na altitude, que joga a quase 3.000 metros num campo que é difícil para jogar até mesmo para os rivais de Quito"
Estamos crescendo futebolisticamente, nossa equipe tem biotipo diferente, com jogadores de envergadura, de "bon pie". Estou seguro de que vamos ser digníssimos competidores. Aspiramos fazer uma grandiosa Libertadores.

César Farías conta com quase 50 jogadores no elenco. Ele escalou 21 titulares diferentes e usou 25 atletas nas últimas quatro partidas da temporada. Apenas três jogadores atuaram em todas: o zagueiro Cangá, o meia Quiñonez e o ala/ponta Castillo. O lateral Perlaza jogou três das quatro

ge: Como avalia seu atual elenco?

Nós temos um plantel muito profundo. Não é habitual para o futebol equatoriano ou em muitos países sul-americanos. Nós temos 46 jogadores e pensamos no desenvolvimento do plantel, não do time do 1 ao 11. Porque queremos ser bicampeões do Equador, queremos brigar na Libertadores e queremos também a Copa Equador. A Libertadores se joga diferente do que se joga outros torneios. Contratamos Jefferson Montero, que jogou na Inglaterra, no México, Christian Aleman, que jogou as semifinais do ano passado com o Barcelona, jogou na Polônia. Temos Rezabala, que jogou no México, no Tijuana, foi campeão sul-americano sub-20 em 2019 pelo Equador e terceiro do mundo sub-20. São seis jogadores campeões sul-americanos sub-20 e terceiros do mundo. Temos uma base importante do ano passado com 22 jogadores. Temos Wilker Ángel, zagueiro da seleção venezuelana, que jogou na Rússia, na Turquia. Temos um zagueiro da seleção de Trinidad e Tobago, Aubrey David. Trouxemos do Barcelona Erick Castillo, que jogou a final contra a gente ano passado e contratamos do Tijuana. Também temos Cifuentes, um artilheiro que tem mais de 136 gols na carreira.

ge: São muitos jogadores da seleção equatoriana...

Contratamos jogadores com experiência de títulos na carreira. Mas mais do que isso, fomos atrás de cinco jogadores sub-23 de muita projeção, de muito futuro, como Angelo Mina. Carcelen, que veio do Barcelona, um jogador de "exportação" para a Europa. Além de todos que tínhamos como Jhonny Quiñonez, Gallíndez, goleiro da seleção equatoriana, Temos também Edison Vega (meia), Perlaza, nosso lateral-direito que jogou toda a Eliminatória, Cuero, que foi o melhor lateral do nosso campeonato.

ge: Vocês já esperavam cair num grupo complicado?

Não nos pega de surpresa pegar equipes grandes. Sabemos nossa força, sabemos como devemos encarar essas partidas internacionais. Em 2004, com o Táchira, estreei contra o River Plate do Uruguai. Nas Eliminatórias, me sobrou Brasil e Argentina para as primeiras duas rodadas (risos). A gente encara com a seriedade necessária e sabendo que devemos estar preparados para jogar com rivais dessa magnitude. Hoje chegamos bem, nos sentimos fortes, sabemos que temos talento, trabalho, que o clube segue crescendo, se organizando e queremos aproveitar essa oportunidade porque não acontece todos os dias.


"Não queremos vir para a Libertadores a passeio. Queremos classificar de fase e brigar pelo título"
ge: Com plantel grande você pensa em rodízio para jogar fora e na altitude, como fazia com a seleção da Bolívia em La Paz?

Vai ter um sistema de rodízio de jogadores, obviamente, que nos permita chegar frescos nas partidas. Vão começar as partidas da nossa liga, da Libertadores e no segundo semestre temos a Copa Equador. O clube se preparou para brigar por todas as frentes e entende que necessitávamos ter as ferramentas para qualquer lesão, qualquer suspensão, para acirrar a competição interna também. O jogador equatoriano hoje tem uma "hierarquia" diferente. O país vem de participações em Copas, vem de uma grande campanha nas Eliminatórias, na qual tivemos Perlaza, Quiñonez, Carcelen. Temos Stiven Plaza, Segura, campeões sul-americanos e terceiros do mundo. Temos Lara, nosso outro goleiro.

É uma difícil tarefa de colocar todos esses jogadores que já foram campeões, que tem experiências internacionais. Eles se preparam arduamente, sabem que chegou o momento, que vamos jogar contra o campeão da Libertadores, contra um grande clube como o Racing, contra um clube em ascensão como o Ñublense. Então, já começou a Libertadores, já sente ela e estamos preparados para o que vier.

ge: Como enfrentar esse Flamengo? Um pouco mais na defesa ou sai mais na altitude?

Temos uma equipe preparada para jogar no ataque. Seja contra o Flamengo, seja contra o Racing. Em casa, queremos ficar com todos os pontos. Vamos atacá-los, vamos buscá-los. O Flamengo sabe quão difícil é jogar em Quito, há pouco enfrentou o Del Valle. No torneio local estivemos muito parelhos ao Del Valle. Vimos no ano passado o Emelec contra o Atlético-MG, na qual os brasileiros passaram por um gol. Não faz muito tempo o Barcelona foi semifinalista da Libertadores. O Del Valle ganhou a Sul-Americana duas vezes.

O futebol equatoriano vem numa crescente. Estamos com base forte, mas também temos reforços de fora, com jogadores que sabem ser campões, que são ambiciosos e sabíamos que se não era o Flamengo, era o Fluminense. Ou então o Atlético-MG. Ou o Boca ou River. Libertadores é assim e você tem que se preparar para esse nível de enfrentamento. Eles também têm que se preocupar com nossa capacidade, jogamos na nossa casa. Somos um clube muito forte em casa, que sabe tirar proveito da altitude e que tem um plantel importantíssimo.

"É o plantel mais importante que tive em mãos em toda a minha carreira. Hoje me sinto respaldado pela qualidade dos jogadores que temos. Vai ser uma linda experiência e esperamos sair vitoriosos"

ge: Os brasileiros vêm sendo a grande força das competições sul-americanas, principalmente com as três finais consecutivas apenas entre equipes do Brasil. Assim os vê também?

Se você quer competir com o Brasil, que para mim, hoje, é a Premier da América, está um passo acima dos demais, você tem que saber fazer coisas diferentes, se preparar diferente, ter a capacidade de controlar distintos sistemas. Porque, tradicionalmente, se fizer o mesmo, vão te comer vivo. Temos que ter audácia de fazer coisas diferentes e não ter medo das críticas. Saber que a dinâmica de mudança nos faz seguir crescendo e vamos chegar num momento muito interessante na libertadores.

ge: É um desafio parar essa sequência de quatro títulos consecutivos de brasileiros?

Recentemente, fui ao Mundial de Clubes, assisti a Chelsea e Palmeiras. No retorno passei pelo Brasil e assisti Fluminense e Santos, Flamengo e Chapecoense. Depois, na Bahia, vi quando o Atlético-MG foi campeão. Um estudo mostrou que no Brasil se joga 55 minutos de bola rolando, depois vêm o Chile com 52:40 e entao o Equador, com 52 min. Para o Equador é um bom ritmo porque entre a altitude e o nível do mar sempre os visitantes tratam de fazer bloco baixo e o jogo não flui. Mas os equatorianos também competem porque tem bom ritmo de jogo e jogam com intensidade. Nós buscamos nos preparar fora, mas sabendo que precisamos chegar à excelência.


É um desafio jogar 60 minutos em alto ritmo na altitude. Quando não se para o jogo, que se desfrute do jogo e se jogue rápido, porque senão não tem como ter nenhum tipo de possibilidade contra os brasileiros. Hoje eles estão para ganhar a Libertadores. Quando se vê o nível tático, a qualidade técnica, o biotipo, a freada, a arrancada, a mudança de direção... há uma diferença. Mas o Equador não está longe disso. Nós primeiros temos que saber bem o que temos, segundo ter essa rebeldia. Ao Flamengo, respeitamos e podemos admirá-los antes do jogo, mas quando começa a partida acabou. Somente no dia seguinte podemos outra vez ter admiração pelo futebol brasileiro. Hoje temos que ter convencimento de que também podemos ganhar.

ge: Em 2020, o senhor negociou com o Botafogo. O que aconteceu?



Inclusive quem me enviou o contrato foi o Tulio Maravilha. Mas o que aconteceu foi que havia morrido o presidente da Federação Boliviana de Futebol que me levou na pandemia. Havia um interino, mas vinha um novo presidente que não me queria. Ou que queria trazer o treinador dele. A pessoa que estava como interino me chamou para reunião com ele em Pando, que é fronteira do Brasil com a Bolívia. Ele me pediu que não fosse, que ficasse e aguentasse e não houve a possibilidade de sair. Mas é algo que, sem dúvida alguma, um dia desejo que possa acontecer na minha carreira. Embora hoje esteja muito bem no Aucas, muito contente com o que estou fazendo e muito esperançoso com a Libertadores que podemos fazer. Mas acabei de fazer 50 anos. Me sinto com muita força por muitos anos e acredito que em algum momento terei essa possibilidade.

669 visitas - Fonte: globoesporte


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