O placar marcava 2 a 0 para o Santo André contra o Flamengo quando Dodô foi chamado para entrar na final da Copa do Brasil de 2004. Aos 35 minutos do segundo tempo, o meio-campista mal conseguia acreditar que estaria em campo atuando em um Maracanã lotado.
Antes da partida começar, ele havia se impressionado com os gritos dos torcedores flamenguistas. O jovem até ligou para os familiares apenas para mostrar o barulho. Parecia ter uma caixa de som ligada no último volume dentro do vestiário.
As paredes tremiam.
Apesar de sentir uma forte adrenalina percorrer todo seu corpo e um frio na barriga ao ver nomes consagrados do outro lado, Dodô não tremeu.
A vontade era tão grande que ele mal conseguiu ouvir as instruções antes de entrar no lugar de Élvis, principal nome daquela noite. O camisa 10 tinha dado uma assistência para o primeiro gol andreense e ainda anotou o segundo.
"Você vai segurar para o time deles não subir. Mas quando tiver a bola, tenta jogar. Vai lá e boa sorte!", disse o técnico Sérgio Soares.
O meia pensou como seria jogar em um time grande para tantos torcedores toda a semana.
"No primeiro lance, eu recebi um passe na linha de fundo, fingi que ia avançar e parei. Dei um corte, o (zagueiro) Fabiano Eller passou da jogada, acertou a minha coxa e levou um cartão amarelo. Todo mundo estava olhando para a gente naquele dia. Era a minha chance de mostrar meu futebol para o país todo", contou Dodô ao ESPN.com.br .
Antes do apito final, o meia ainda conseguiu fazer mais algumas jogadas, incluindo um desarme no meia Felipe, principal craque do time adversário.
Com o triunfo por 2 a 0, o Santo André tornou-se o primeiro time paulista a vencer o Flamengo - e ser campeão - em uma final de Copa do Brasil no Maracanã.
"Na hora que terminou o jogo eu chorei muito de alegria. Lembro que tinham muitos torcedores do Flamengo chorando nas arquibancadas, rasgando e queimando as camisas... Foi bem marcante!"
"A gente fez uma festa tão grande que acho que fiquei uns dois dias sem dormir, só comemorando (risos)!".
Depois da Copa do Brasil, o meio-campista jogou a Série B de 2004 e a fase de grupos CONMEBOL Libertadores do ano seguinte. No empate contra o Palmeiras fora de casa, ele foi titular.
"Lembro que não estava sendo titular, mas o (técnico) Sérgio Soares me colocou para jogar desde o começo da partida e foi uma experiência incrível! Foram os melhores momentos da minha carreira".
A equipe do ABC não se classificou para as oitavas de final, mas venceu o Verdão no Bruno Daniel e também o Deportivo Táchira.
O meia teve algumas ofertas durante o período, mas as negociações não deram certo. Em 2006, ele deixou o Santo André e passou a peregrinar por vários clubes: São Bento, Bragantino, Villa Rio, Anápolis, Força Sindical, Oswaldo Cruz, Matonense e Rio Branco.
No final de 2011, ele resolveu pendurar as chuteiras, com menos de 30 anos.
"Minha primeira filha era pequena e a minha carreira não estava indo bem. Os salários eram baixos e muitas vezes os clubes atrasavam vários meses ou nem pagavam. Passei a jogar na várzea que pagava melhor e em dia".
Formado no ensino médio, Dodô não tinha uma outra profissão além do futebol. Por isso, começou a fazer bicos para sustentar a família. Ele ajudava o tio a fazer entregas de alimentos perecíveis para restaurantes com um caminhão.
Em seguida, fez um curso rápido de mecânica e passou a trabalhar com logística em uma empresa de colírios da Grande São Paulo.
"Fiz vários cursos e comecei fui trabalhar como estoquista operando uma máquina empilhadeira".
Há cinco anos, ele foi contratado por uma indústria multinacional que fabrica fraldas, absorventes e papel higiênico. Para reviver um pouco dos velhos tempos, ele ainda atua nos times de masters do Sport Club Corinthians de Franco da Rocha e no Unidos da Praça Vera Tereza, ambos de várzea.
"O pessoal da firma aqui sabe que fui jogador profissional e só me chamam de 'jogador' (risos). Eles perguntam muitas coisas da época que joguei e como foi a final da Copa do Brasil. Eles querem saber tudo (risos)".
"A gente lembra dessa época e tem vontade de voltar no tempo para fazer as coisas um pouco melhor. Mas não posso reclamar de nada".
Apesar de não ter conseguido fazer um pé de meia com o futebol, Dodô seguiu uma vida comum a maioria dos trabalhadores brasileiros. Aos 40 anos, ele é pai de três filhas e segue na batalha.
"Minha esposa, a Amanda, está comigo há 20 anos e sempre me apoiou em todos os momentos. Sem ela, não conseguiria dar uma estabilidade para a nossa família e comprar a nossa casa".
Torcedor do São Paulo, Dodô acredita que a equipe tricolor poderá finalmente vencer a Copa do Brasil. No entanto, ele não poderá ver a partida contra o Flamengo, que será disputada neste domingo, às 16h (de Brasília), porque estará trabalhando. O jeito será acompanhar pelo rádio ou pelo celular...
"Brinco com o pessoal que se o São Paulo perder não tem problema porque eu sei como é ser campeão (risos). Mas falando sério, acho que o São Paulo tem tudo na mão porque venceu a primeira partida fora de casa (por 1 a 0 no Maracanã). Para a gente foi mais complicado porque o Flamengo era muito favorito, empatou a primeira aqui e decidiu lá no Maracanã".
1165 visitas - Fonte: espn
VEJA TAMBÉM
- DECEPÇÃO! Arrascaeta recebe críticas por atuação na Seleção Uruguaia durante as Eliminatórias
- PRIMEIRO NA NOVA ERA? Gabigol deseja marcar gol inaugural no novo estádio do Flamengo
- VAI RENOVAR?? Futuro de Gabigol no Flamengo: amor ao clube rúbro negro
Comentários do Facebook -