Filipe Luís teve seus momentos finais na Seleção de Tite na Copa América de 2019. Antes da Copa do Mundo de 2022, o técnico confidenciava que se o lateral-esquerdo do Flamengo - que na conquista do continente contra o Peru, no Maracanã, ainda era do Atlético de Madrid - tivesse dois, três aninhos a menos ainda o levaria para o Catar.
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De todos os rótulos e adesivos que tentaram colar em Tite desde que chegou à seleção brasileira em 2018, a de conservador nas escolhas de campo talvez seja a mais apropriada. É metódico, preza pelo equilíbrio. Menos arrojado do que seu sucessor na Seleção Fernando Diniz. É justo colocar nessa conta também o choque de gerações entre dois treinadores interessantíssimos como são.
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Tite é o novo técnico do Flamengo — Foto: Flamengo
Mas não a de retranqueiro, que veio sabe-se lá de onde. Talvez daquela coisa também batida de "futebol gaúcho é mais duro", "o 10 veste a 5", como se todos nascidos no Rio Grande do Sul pensassem igual quando a bola rola.
Tite chega ao Flamengo com o... (sem trocadilho) apetite de quem também tem que voltar a vencer. Se na Seleção não ganhar Copa em duas tentativas é tachado de fracasso, no Flamengo é menos sofisticado. E simples. Basta não ganhar uma Taça Guanabara .
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Tite vem de segundo momento sabático na carreira. Entre as conquistas de 2011 e 2012 com o Corinthians e o retorno triunfal de 2015, admitiu que aprendeu a jogar mais e melhor no ataque. No Flamengo, com o investimento e o time que tem - sim, de nível de Seleção, tanto que sempre incomodou os torcedores com tantos convocados -, nem que quisesse o treinador conseguiria "jogar na defesa".
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Ele costuma dizer que quando uma equipe chama sua atenção, ele procura olhar o saldo de gols, não só a pontuação ou os gols marcados. Em 2011, o saldo do Corinthians foi de 17. Em 2015, 40! Em 2011, oito empates e nove derrotas. Em 2015, nove empates e apenas cinco derrotas. Ah, e mais 10 pontos na tabela para o título comparando uma conquista de Brasileiro à outra.
Tite na entrevista exclusiva ao ge na sede da CBF — Foto: André Durão
Entre uma Copa e outra, Tite buscou opções e renovou - bem gradativamente (lembra do conservador?) - 60% do grupo da seleção brasileira. Algumas vezes hesitou nas mudanças e foi nas bolas de segurança. A convocação de Daniel Alves é a mais simbólica nesse sentido. No Flamengo, sem uma figura do gestor esportivo muito clara, vai ser peça-chave para definir diretrizes, num ambiente em que não só derrotas, mas empates e decisões duras por renovações já viram crises.
O gaúcho de Caxias do Sul virou carioca há mais de seis anos. Mora de frente para a praia, faz suas caminhadas diárias para cuidar do combalido joelho, mas tenta manter discrição. Pouco sai para restaurantes e programas culturais. No Flamengo, sem intervalos longos entre uma data Fifa e outra, essa invisibilidade será quase impossível.
* Raphael Zarko é repórter e cobriu a seleção brasileira de Tite entre 2019 e 2022.
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