O Flamengo não fez um jogo brilhante, mas o baixinho Michael de 1,66m engrandeceu um time que vinha sem confiança e de uma série de partidas inconsistentes. A estreia do agora camisa 30 da Gávea foi com vitória por 2 a 1 sobre o Bragantino, e os holofotes não ficaram em cima dele por se tratar de um reencontro e sim especialmente pela enorme contribuição dada em campo. O texto será focado no Robozinho, que participou muito, mas é impossível falar da vitória rubro-negra sem passar pelo nome de Luiz Araújo, o melhor jogador em campo. Mesmo desgastado por ser um dos atletas mais utilizados por Tite, foi impecável taticamente. Terminou como líder de desarmes do Flamengo - com três - e ao mesmo tempo na condição de grande garçom do duelo, mas esse papo fica para depois. Efeito Micha: gol, movimentação e dribles A atração do domingo, Michael fez valer a expectativa colocada em seu futebol na etapa inicial. Após uma esticada errada de David Luiz, com um minuto, deu um pique em alta velocidade, para tentar o combate no lateral-direito Hurtado. Aos dois, após dominar a bola pela primeira vez, partir em diagonal e inverter o jogo em Gerson, arrancou gritos e muita agitação da arquibancada. Depois desse início insinuante, o Flamengo até tomou sustos em um recuo perigoso de David Luiz por cima de Rossi e numa bola na trave em chute de Jhon Jhon. Estas, porém, seriam as últimas chegadas do Bragantino na etapa. Elétrico em campo, Michael surpreendeu a todos aos 15 minutos com um gol de cabeça . Mas é importante destacar que outros personagens tiveram participação importante. Pulgar roubou a bola na origem do lance e no fim dele apareceu na área para centrar de primeira após um passe de três dedos de Gerson.
A bola bateu na zaga, e Luiz Araújo pegou a sobra, cortou Jhon Jhon e cruzou de com o pé direito, que não é o bom. Para marcar o gol, o Robozinho fez jus a duas declarações dadas durante a semana. Uma é a que voltava mais inteligente da Arábia Saudita. Ele teve muita perspicácia para se antecipar a Andrés Hurtado e emendar um peixinho fulminante às costas do equatoriano. A outra é que tinha dito no treinamento de sábado que era só cruzar no segundo pau porque a bola sempre sobraria para o baixinho. Dito e feito. Os 1,83m de Hurtado não funcionaram bem no cruzamento à meia-altura de Luiz, e os 1,66m de Micha, mais próximo do chão, jogaram a favor. É rede.
Dois minutos depois, ele invadiu a área e causou frisson no Maracanã. Segundos se passaram e por pouco ele não marcou o segundo gol. Novamente antecipou Hurtado e se atirou de carrinho. Desta vez Cleiton pegou (veja abaixo) . Mas Michael não causava danos ao Bragantino somente com finalizações. Jadsom, um dos melhores marcadores do adversário, ficou pendurado com apenas 29 minutos de jogo ao levar um drible desconcertante do baixinho. O 5 do Braga ainda tomaria uma caneta de Léo Pereira mais tarde. Ao observar tanto sofrimento, Pedro Caixinha sacou o volante no intervalo. Para completar o ótimo primeiro tempo, Michael ainda cortaria um escanteio num voleio difícil de se realizar e driblaria Guilherme num giro muito bonito, nos acréscimos (veja nos vídeos abaixo). A etapa mostrou um Flamengo seguro, mais brigador, driblador - Luiz Araújo também partia para cima - e versátil, já que os dois pontas trocavam de posição o tempo todo, independentemente de jogar com pé trocado ou não. A veloz dupla ainda contava com a movimentação constante de Gerson e Bruno Henrique. Bruno, aliás, não foi aquele centroavante rompedor, mas fez o pivô e manteve a bola com o Rubro-Negro na frente por várias vezes. O time foi para o intervalo com 59% de posse de bola e um placar de 7 a 3 nas finalizações.
Erro individual não estraga noite de Michael e Luiz Araújo Com a mesma formação, o Flamengo voltou do intervalo disposto a resolver a parada. Com poucos segundos, o time esteve próximo de um golaço. Bruno Henrique apareceu na linha do meio campo para cabecear na direção de Michael, que, embora viesse de trás, superou Hurtado - o equatoriano vai sonhar com ele - e tocou no comando para Gerson. O Coringa desviou com muito talento, de calcanhar, mas Guilherme travou Gerson. O outro lance de beleza do segundo tempo também teve Michael no centro das atenções. O protagonista da jogada, porém, foi Wesley, que viveu a frustração de não ver sua venda para a Atalanta concretizada. O garoto recebeu próximo à área do Flamengo e tabelou com Pulgar e Gerson. No tempo certo, carregou a bola e esticou no Robozinho, que cortou e chutou com muito perigo. As chegadas rubro-negras indicavam que o placar logo seria ampliado, mas um erro individual colocou o Bragantino no jogo. Dessa vez não dá nem para responsabilizar Tite por mais um gol sofrido no jogo aéreo. Escanteio para o Bragantino, e Allan, de forma inexplicável, cabeceou para trás. Douglas Mendes, sozinho, aproveitou e empatou. A falha trouxe intranquilidade de forma imediata ao Maracanã. O primeiro toque na bola de Allan após o gol foi sucedido de vaias. Sorte dele, do Flamengo e de Luiz Araújo é que essa igualdade não duraria nem dois minutos. Depois de o time girar a bola, incluindo o momento em que Allan foi vaiado, Gerson acabou acionado na direita e esperou Luiz passar para dar o toque. O camisa 7 entrou na área, driblou Guilherme e cruzou para a área. Uma trapalhada da zaga rival premiou o melhor rubro-negro em campo, e Raul, ex-Vasco, jogou contra o próprio patrimônio. Depois desses dois gols acontecidos um atrás do outro, o Flamengo não foi mais ameaçado. É verdade que pouco criou também e só machucou numa bomba de Gerson após jogada individual, mas a postura tranquila dos rubro-negros para defenderem a vantagem no fim do jogo foi suficiente. Se houve muito o que se comemorar a respeito da postura lutadora impulsionada especialmente por Michael e Luiz Araújo, é preciso pontuar que Lorran, dono de um grande talento e inegavelmente a maior joia da base do Flamengo , precisa ser mais objetivo. Depois de perder espaço e muitos torcedores reclamarem por verem nele uma das grandes opções ofensivas para mudar jogos, o garoto de 18 anos entrou em ritmo lento e prendeu demais a bola. Tem tudo para ser craque, mas precisa mostrar a fome de bola que o elevou ao status de principal joia e não ser fominha em campo. Não foi um jogaço do Flamengo , mas a atuação trouxe esperança de que é possível brigar pelos três campeonatos em disputa. Os rubro-negros vinham de uma desgastante batalha na altitude, a comissão técnica precisou fazer a gestão de minutos de medalhões, e ainda assim a vitória veio. Veio com um Flamengo brigador, driblador e capaz de se reinventar durante o jogo. Um Flamengo mais alegre e carismático. O Flamengo de Michael.
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