Ser eliminado pelo Peñarol nas quartas de final de uma Libertadores da América não é vergonha alguma. O dinheiro que começou a jorrar no futebol brasileiro não nos torna imunes a quedas diante de rivais tradicionais no continente – caso dos carboneros, donos de cinco Libertadores, mais do que qualquer clube do Brasil. O que assombra no Flamengo não é o jogo desta quinta-feira, não é a eliminação em si: é a campanha pífia no principal campeonato da temporada. A Libertadores do Flamengo foi um fiasco. O favorito ao título, com um elenco estrelado, com reforços de peso, com o treinador da seleção brasileira nas duas últimas Copas do Mundo, passou em segundo em um grupo fraco, não venceu nenhum jogo fora de casa (três derrotas e dois empates), correu risco de eliminação para o Bolívar nas oitavas de final e foi o único time das quartas a não fazer um gol sequer. Ninguém decepcionou tanto. A campanha rubro-negra na Libertadores foi o símbolo de um ano perdido, e o 0 a 0 em Montevidéu serve como sinopse dessa história: uma atuação protocolar quando se exigia uma virada épica; um domínio insuficiente quando era necessária uma pressão insustentável. O Flamengo não reagiu por um motivo muito básico: porque não sabia como. O desencanto no Flamengo de 2024 tem relação direta com a incapacidade, demonstrada por Tite, de encontrar soluções para o time. É surpreendente, porque ele sempre foi um treinador de soluções – os títulos mais importantes que conquistou na carreira demonstram isso, com variações táticas significativas de um para outro: o 3-5-2 no Grêmio, o 4-4-2 com linha de quatro zagueiros no Inter, o 4-5-1 no Corinthians. No Flamengo, não aconteceu. Tite teve o trabalho acidentado por uma série impressionante de lesões e pela insanidade do calendário (o Flamengo teve cinco convocados para a Copa América, e o futebol não parou no Brasil). É difícil encontrar uma escalação com tamanho vaivém no elenco. Mas em momento algum da temporada o time pareceu de fato formado. O que apresentou foram lampejos, como na goleada de 6 a 1 sobre o Vasco – e que tiveram o efeito melancólico de mostrar o que o Flamengo poderia ter sido em 2024 (mas não foi). Agora, resta um fim de ano em que nem o eventual título da Copa do Brasil servirá para tapar a cratera entre expectativa e realidade. O ideal seria começar a montar o projeto de 2025: inserir os reforços recém-chegados (que são mais para o ano que vem do que para agora), entender se ídolos recentes ainda servem ao time, decidir quem deve ser o treinador. Mas a efervescência do Flamengo, especialmente em ano eleitoral, torna tudo isso mais um exercício de mero otimismo.
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