Juiz que não deu gol vascaíno contra o Fla desabafa: 'Deus, como não vi?'

27/3/2014 12:02

Juiz que não deu gol vascaíno contra o Fla desabafa: 'Deus, como não vi?'

Em sua primeira entrevista exclusiva, Rodrigo Castanheira fala sobre o lance que mudou sua vida e as consequências provocadas pelo equívoco em falta batida por Douglas

Juiz que não deu gol vascaíno contra o Fla desabafa: Deus, como não vi?
Rodrigo Castanheira deu a sua versão para o lance que marcou sua carreira (Foto: Cleber Mendes/LANCE!Press)

O Vasco até poderia entrar em campo hoje contra o Fluminense com a vantagem de dois resultados iguais não fossem milésimos de segundos que levaram o árbitro Rodrigo Castanheira ao inferno em vida.

Em 16 de fevereiro, aos 11 da etapa inicial, ele não validou gol legítimo do vascaíno Douglas, de falta, contra o Flamengo. Após a jogada, medição feita pela televisão apontou que a bola entrou 33 centímetros dentro do gol de Felipe.

– Passei convicto a mensagem (para o árbitro principal), fiz todo o protocolo treinado, estava em situação de conforto naquela falta. Dei o meu máximo, fiz o máximo que a capacidade humana permitia. Fui ao máximo do olho humano – afirmou Castanheira.

O juiz quebrou o silêncio para o LANCE!Net e deu sua versão dos fatos. Confira.

O Erro

'Estava muito bem na jogada, fiz tudo o que foi treinado na pré-temporada. Estava confortável, firme no gestual do movimento e falhei. Mas quem é infalível em sua profissão? Porque, ali, passo a mensagem com convicção. Não fui omisso. Em nenhum momento tive dúvidas.'

O gol não validado

'Vejo sempre parte da bola sobre a linha do gol. Eu vejo o bojo da bola sobre a linha. Eu não poderia passar ali uma mensagem que a capacidade humana não me permitiu ver. Porque, ali, fiz o que o olho humano permite. Eu fiz meu máximo como ser humano.'

O aviso sobre o erro

'Pela experiência já desconfiava. Mas soube mesmo no intervalo.'

Sobre continuar na partida

'Tem de passar por cima daquilo, tem de voltar de cabeça erguida. Sou experiente, tenho 12 anos de carreira, trabalhei em vários clássicos, em final de turno. É voltar com entusiasmo, garra e dar o máximo, como sempre dei na minha carreira, como dei no momento daquela falta. Agora, foi uma situação delicada, na qual você tem de ter todo o lado psicológico para continuar. Nessa hora que tem de ser um verdadeiro guerreiro.'

O erro na TV

'Cheguei em casa, minha filha me abraçou e falou: “papai, eu te amo”. Esse apoio da família foi fundamental. Mas na noite de domingo não quis ver o lance. Vi rapidamente em um programa de TV. Mas só na quarta-feira foi que sentei para assistir. A bola passou 33cm e, aí, entra o contexto do ser humano. Mas é algo que me assusta, me cobro. Minha função número um era ver se a bola entrou ou não. Fiz todo o possível. Não tem como não me cobrar e aquilo ficar na cabeça. Meu Deus, como não vi? Fiquei arrasado no contexto de uma autocobrança. Como eu pude ter perdido justamente aquele lance?'

Arrependimento

'Não tenho nenhum. Como te disse, fiz tudo certo e estava convicto de que a bola não tinha entrado.'

O dia seguinte

'Fiquei com a minha família e recebi todo o apoio deles. Em nenhum momento pediram para eu deixar a arbitragem, porque sabem que amo o que faço. Minha paixão é essa.'

Exames médicos

'Recebi todo o apoio da Federação de Futebol do Rio e do Departamento de Árbitros. Só saí de casa, após o jogo, na quinta-feira, quando fui me consultar com um neurocirurgião em São Paulo. A Federação ainda me disponibilizou dois oftalmologistas e um psicólogo. Fiz todos os exames clínicos e psicológicos e deu tudo certo.'

As ameaças

'Prestei queixa porque foi algo avassalador. Divulgaram todos meus dados, CPF, endereço familiar, endereço das escolas que trabalho. Incentivaram a violência e isto gerou uma série de ameaças. Falaram que tinha de me bater mesmo, que fiz de propósito, que era safado, ladrão, corrupto. Passaram por cima de mim, do cidadão Castanheira e da minha família.'

O retorno

'Voltei um mês depois no jogo entre Macaé e Duque de Caxias, que valia muito para o campeonato, por causa da disputa para fugir do rebaixamento. No domingo, trabalhei em outro grande jogo, Boavista e Bangu. Tanto que o Boavista foi o campeão da Taça Rio. Isso prova a confiança que a Federação de Futebol tem em mim. E também que tudo já passou: o momento da cobrança, da exposição na mídia, das ameaças da internet.'

Vai ficar marcado pelo erro?

'Estou preparado. Entro de cabeça erguida e com a mesma dedicação. Estou sempre tranquilo.'

1059 visitas - Fonte: LanceNet!


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