Jayme de Almeida assumiu o Flamengo com uma bomba no colo, após a saída de Mano Menezes. Resolveu o problema, ganhou dois títulos e o coração da torcida. Entretanto, na segunda-feira, mais do que demitido, foi desrespeitado pela diretoria rubro-negra.

Quarenta e oito horas após a demissão, bem mais calmo, o ex-técnico da equipe conversou com a reportagem do LANCE!Net e recordou a passagem no clube.

O treinador segue perplexo com a maneira com a qual foi "despejado de casa". No entanto, prefere exaltar os momentos bonitos que teve no comando do time, agradecendo o apoio da torcida e, principalmente, dos jogadores, que compraram a ideia de um treinador inexperiente, mas que mostrou preparo no cargo.

– Se parar para pensar, o Flamengo me ajudou, e eu acabei ajudando o Flamengo também. Não esperava que as coisas chegariam a um ponto tão positivo, assim como não esperava que elas fossem terminar do jeito que terminaram. Hoje, um tempo depois da crise, garanto-lhe que as lembranças que ficam são lindas. Vou guardar para sempre!

LANCENet: Você elogiou bastante a postura do ex-diretor-executivo de futebol do Flamengo Paulo Pelaipe. Por quê?

- É um cara absurdo. Uma pessoa que tem todo o prestígio comigo, tivemos uma relação de famílias até. A esposa dele é grande amiga da minha esposa, somos pessoas que nos relacionamos fora do clube também. O que aconteceu foi que ele me ligou por volta das 11h – quando vocês já tinham noticiado a minha saída e a chegada do Ney –, para dizer que não sabia de nada também. Me disse que o telefone dele do Rio estava cortado e me ligou do número pessoal dele do Rio Grande do Sul. Nós (Jayme e Pelaipe) realmente não sabíamos de nada, o sentimento de perplexidade foi enorme. Fomos os últimos a saber que estávamos fora do clube.

L!Net: Algum jogador ligou para você? Como foi essa conversa?

- Falei com todo mundo. Alguns me ligaram, outros mandaram mensagem, mas falei com todos. Fui atleta, uns estão com medo do que está por vir pela frente. Garanto que nunca tive problemas com nenhum jogador, foi ótima a minha relação. Tenho muito a agradecer, principalmente a eles que me ajudaram muito no ano passado e neste ano. É vida que segue para ambos os lados. Desejo sorte aos jogadores.

L!Net: Em nove meses, você ganhou dois títulos e, mesmo assim, foi demitido. Como vê esta decisão?

- Meu ponto é que meu trabalho foi reconhecido e acabou sendo vitorioso, graças a Deus. Se não no clube, fora dele foi muito reconhecido. Confesso que não tomei susto com a demissão, podia acontecer a qualquer momento, fiquei perplexo com a maneira como ela foi conduzida. A passagem pelo Flamengo foi linda, é o clube com o qual me identifico e amo, não poderia ter sido melhor.

L!Net: Ney Franco acertou com o Flamengo horas depois de você ter sido demitido. Acha que eles vinham negociando antes?

- Difícil falar isso. A única coisa que posso falar é que fui o último a saber. Quem trabalha no clube, tem todo o direito de me tirar de lá. Faz parte do trabalho do treinador. Eles são os responsáveis pelo que o clube é e vai se tornar. A decisão é deles, eles mandam. Já têm novo treinador, já viraram a página, e é a hora de eu virar também. Agora, verdade seja dita, meu relacionamento com eles até domingo era ótimo, honesto e sem disse que disse. O que tenho a agradecer é que esses nove meses vão me dar muitos frutos, partindo do princípio que já tenho novas perspectivas de mercado.

L!Net: Grande parte da torcida lhe deu apoio. Qual a sua reação?

- O carinho que recebi nesses dois dias foi algo inimaginável. Me deixa orgulhoso do que fiz e do que sou para o Flamengo. Da família, dos amigos, de torcedores e até de vocês da imprensa, foi algo único pra mim. No geral, acho que todos nós tivemos uma relação bacana de apoio e compreensão. Saio muito orgulhoso.

L!Net: Você já sabe qual será o seu futuro no futebol?

- Temos de respeitar quem está no cargo, sou profissional e jamais conversaria com um clube que ainda tem treinador. Foi legal, porque sentei com o meu empresário e percebi que meu nome é bem falado no mercado. Tenho uma perspectiva boa para o futuro, seja daqui a um dia, dez dias ou um mês. Vou continuar como treinador e quero muito ir em frente. Mas ainda não vou conversar com nenhum clube que tenha treinador. Vamos respeitar todo mundo, como sempre me respeitaram.