As cambalhotas despretensiosas dadas por Rebeca Andrade quando tinha apenas 4 anos, no ginásio do Clube Bonifácio Cardoso, em Guarulhos, deram frutos. Agora, aos 13, ela faz parte da nova seleção de ginástica artística do Brasil e já soma no currículo vitórias sobre algumas de suas ídolas como Daniele Hypolito e Jade Barbosa. A jovem atleta, uma das “sobreviventes” ao corte feito pelo Flamengo na modalidade recentemente, sonha com os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, enquanto prevê um futuro melhor para o esporte.
Rebeca sempre foi uma criança agitada, que se divertia correndo e brincando pelas dependências do Bonifácio Cardoso, em Guarulhos, enquanto aguardava sua tia terminar de trabalhar. Foi assim, durante as molecagens de menina, que surgiu a oportunidade de fazer um teste para fazer parte da equipe de ginástica artística do clube.
Flexível, magrinha e resistente, Rebeca foi aprovada, com apenas 4 anos. De início, não chegava a treinar, mas assistia às outras atletas e brincava de dar cambalhotas. Em pouco tempo, porém, já começou a mostrar habilidade em alguns exercícios. Aos 8, passou a se dedicar mais ao esporte. Para isso, precisou deixar precocemente a casa dos pais.
- Em Guarulhos, minha mãe não tinha dinheiro para ficar me levando para o treino todos os dias. Então, fui morar com a coordenadora e encontrava às vezes com a minha mãe. Depois, fui morar em Curitiba e, em 2011, fui para o Rio de Janeiro, treinar no Flamengo. Já estou acostumada a ficar longe da minha família, mas sempre a gente dá um jeito de se ver - contou a ginasta, que agora está treinando em Três Rios, local que abrigou a equipe do clube carioca após o Velódromo do Rio fechar suas portas, no mês passado.
Assim como a dura rotina de seis horas de treinamentos diários, Rebeca e as demais ginastas que sonham em brilhar na modalidade costumam abrir mão do convívio diário com a família e de parte da vida normal de uma criança. Mas a adolescente, apontada como promessa da nova geração brasileira, diz não sentir falta. Segura, afirma que “não seria feliz fora da ginástica”.
Os frutos de tanta dedicação e abdicação não são poucos. No ano passado, começou a se destacar nas competições nacionais adultas. No Troféu Brasil, surpreendeu ao vencer no individual geral, superando atletas experientes e consagradas como Daniele Hypolito e Jade Barbosa. A última conquista foi a vaga na seleção brasileira de ginástica, durante a seletiva realizada na semana passada, em Três Rios (MG).
- Parece que ainda não caiu a ficha de que ganhei delas. Sempre fui muito fã da Daiane, da Daniele e da Jade. Quando entrei no Flamengo, não conseguia acreditar que estava treinando ao lado delas (Dani e Jade). O meu sonho é chegar a 2016. Tenho que acreditar em mim. Se eu não acreditar, quem vai acreditar? – disse a atleta, que fez parte do programa do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) chamado “Vivência Olímpica”. A ginastas e outras 15 promessas do país acompanharam os Jogos de Londres de perto para pegar experiência visando 2016.
Para a supervisora técnica de ginástica do Flamengo, Ana Paula Luck, Rebeca, especialista nos aparelhos de solo e salto, tem tudo para ir longe.
- Apesar dela ser muito novinha, a ginástica é muito precoce. A gente sabe que ela vai brilhar muito. Claro que ainda tem muita coisa a ser feita. O caminho a percorrer é longo. Não é fácil. Mas, que ela é a principal promessa do Brasil, isso não resta a menor dúvida. Gabarito para chegar lá ela tem. Ach que ela pode representar muito bem o Brasil, talvez até com colocações que o país nunca conquistou.
Rebeca e outros destaques da base estão garantidas no Flamengo
Além de Rebeca, outras quatro ginastas do Flamengo se classificaram para formar a nova seleção feminina da modalidade. Apenas quatro das selecionadas não são do clube rubro-negro. O número é expressivo, mesmo depois do corte de atletas realizado pelo time carioca, no início do mês.
- A nossa situação hoje é atípica. É claro que as menininas mais novas sentiram, ficaram abaladas. Mas, até pela questão da idade, elas já tinham um treino diferenciado. O fato delas estarem em Três Rios, concentradas para a seletiva, também ajudou. Elas não tiveram medo porque a situação delas é diferente – disse Ana Paula Luck.
Apesar de ter dispensado a equipe profissional de ginástica artística, a direção do clube segue garantindo que as categorias de base vão continuar. O vice-presidente de esportes olímpicos, Alexandre Póvoa, também afirmou que a intenção é “arrumar a casa” este ano e, em 2014, tentar até recuperar os atletas que foram dispensados.
- O Flamengo optou em manter essa equipe. Não há a menor possibilidade dessas meninas serem dispensadas. A opção foi essa. Dada a situação que a gente tinha, foi o que achamos que seria o mais correto a se fazer. Preferimos concentrar o esforço no que conseguimos ir bem do que manter altos salários com uma equipe que não temos um custo-benefício tão favorável. Tomara que ano que vem, depois de arrumar tudo esse ano, a gente consiga trazer de volta esses atletas. Demos um passo para trás para dar três para frente - explicou Póvoa.
Outro objetivo para 2013 é a reforma do ginásio Claudio Coutinho, que sofreu um incêndio no fim do ano passado. Segundo o dirigente, os documentos foram entregues há três semanas para a empresa seguradora e, só depois de uma resposta dela, será possível programar o início das obras. Por enquanto, os ginastas estão treinando em Três Rios (MG) e em São Paulo.
- Foi aberto um inquérito policial para investigar o incêndio. Isso demorou dois meses. Acabou que o problema era a má conservação mesmo. Mas a gente não podia entregar com o pedido no seguro antes de terminar o inquérito. Espero em uma semana receber essa resposta. Mas é claro que sempre tem a chance de ter aquela discussão de valores. Depois que a gente começar as obras, o tempo estimado para ficar pronto é de três a quatro meses.
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