6/6/2013 10:19
Jorginho no Fla em 80 dias: sonho de trabalho a longo prazo, indecisões, broncas e saída precoce
Desde a apresentação, no dia 18 de março, até a demissão na madrugada desta quinta-feira, Jorginho viveu 80 dias de Flamengo em uma gangorra que teve mais baixos do que altos. Logo após a demissão de Dorival Júnior por questão financeira, a diretoria rubro-negra olhou para o mercado em busca de um técnico promissor, barato para os padrões salariais do meio e com identificação. Após o bom trabalho no Figueirense, em 2011, o celular de Jorginho tocou. De bate-pronto, o ex-lateral direito aceitou o terceiro convite para assumir o clube no qual ganhou grande projeção na carreira.
Em sua apresentação na Gávea, Jorginho estava sorridente e otimista. Por vezes vislumbrou um futuro longo no comando do Flamengo. Ao ser perguntado sobre a validade do contrato, que iria até o fim de 2014, ele sempre repetiu algumas vezes:
"É de dois anos, mas vai ser de muito mais tempo".
Não foi. Com sede de trabalho, Jorginho assumiu o time de verdade dias depois, contra o Boavista. Em sua apresentação, o técnico garantiu ter predileção por um esquema de 4-2-3-1. No Ninho do Urubu, chegou a treinar assim com a atividade aberta para a imprensa. A campo, mandou uma escalação no tradicional 4-4-2, com Amaral como cão-de-guarda no meio de campo. O time ficou em um empate sem gols com o Boavista. Era apenas a segunda rodada da Taça Rio.
No segundo jogo sob o comando de Jorginho, contra o Bangu, virada de 2 a 1, no sufoco. Nesta partida, o técnico escalou o volante Luiz Antonio improvisado na lateral direita e não gostou. No intervalo, o garoto deixou o time para não mais voltar a ser improvisado. Elias chegou a ser deslocado para o setor, assim como em vitória sobre o Remo, na Copa do Brasil. Elogiado pelo treinador, o volante mostrou desconforto com as seguidas improvisações.
"Quero deixar claro que não sou lateral-direito", disse o Elias ao ser indagado sobre a chance de substituir Léo Moura, machucado.
Em trocas de esquema e improvisações com jogadores, o treinador abria espaços para conversar e ouvir sugestões de torcedores por meio de Twitter. Mas após os primeiros resultados adversos, Jorginho encerrou sua conta na rede social. Em um revés, especificamente, ele causou espanto na cúpula de futebol ao jogar publicamente a toalha no Campeonato Carioca, após a derrota, de virada, para o Audax.
"Estamos pagando um alto preço por um planejamento de longo prazo, mas está sendo calculado. Me colocaram aqui pra eu ter coragem de fazer mudanças para termos um grupo para o Brasileiro", disse o então treinador.
Logo em seguida, recuou e admitiu que o time ainda tinha chances no Estadual. Mas a ndefinição de jogadores também causou problemas para o técnico administrar em sua passagem pelo Flamengo. O constante revezamento na defesa entre Alex Silva, González, Wallace e Renato Santos chegou ao fim quando o primeiro, após sofrer críticas da torcida, pediu um tempo para aprimorar a forma física e pensar na carreira. Alex nunca mais voltou ao time, foi afastado e até hoje treina separadamente no Ninho do Urubu.
Com Ibson, a situação foi um pouco diferente. Titular nas primeiras partidas do técnico, o volante era dono de um alto salário, que incomodava a cúpula de futebol. A Jorginho foi dada a opção de continuar com Ibson no elenco ou liberá-lo para poder destinar o valor do camisa 7 a outra contratação para o Campeonato Brasileiro. Diante do desgaste já estabelecido com Ibson, o técnico optou pela segunda opção Depois de um tempo afastado, Ibson assinou nesta semana contrato com o Corinthians.
Fora do Campeonato Carioca de forma precoce, o Flamengo de Jorginho conseguiu avançar diante de Remo e Campinense na Copa do Brasil sem grandes sustos. A falta de organização no time, porém, incomodava. O entra-e-sai de jogadores era constante. A pouca qualidade técnica do elenco, diga-se, também colaborou. E chegou a tirar Jorginho do sério. Como tinha apenas Hernane para a função de centroavante, o treinador exigiu demais do atacante, que vivia má fase, em um treino. Os palavrões utilizados na cobrança chamaram atenção.
"Presta atenção no que estou falando. Tem que se movimentar, p***! Não fica parado! Encosta esse corpo firme. É duro! Tem que chegar firme! Tem que chegar junto, p****! Toda hora tem de reclamar contigo!", esbravejou o técnico em uma manhã no Ninho do Urubu para o espanto de quem assistia à atividade.
Entre a eliminação no Campeonato Carioca e a estreia no Brasileiro, Jorginho teve longo tempo para aprimorar seu trabalho. Por duas vezes, levou a delegação até o CT João Havelange, em Pinheiral, no interior do Rio de Janeiro. O tempo de concentração até ameaçou surtir efeito na estreia do Campeonato Brasileiro.
Bem postado diante do Santos, na despedida de Neymar, em Brasília, o Flamengo teve sua melhor atuação sob o comando do ex-lateral-direito. Mas cansou de perder gols e não saiu de um empate com o placar zerado. Ficou por aí. Na partida seguinte, contra a Ponte Preta, o time foi modificado, Hernane barrado para a entrada de Marcelo Moreno, e o Flamengo não soube sair da armadilha tática apresentada pelo rival. Derrota de 2 a 0 em casa. Sob protestos da torcida, a luz vermelha acendera.
Contra o Atlético-PR, no último fim de semana, o empate em 2 a 2 com uma nova escalação deu sobrevida ao técnico. Por pouco tempo. Bastou um novo desempenho abaixo da crítica, sem organização tática, para que Jorginho fosse demitido em Florianópolis. Ao fim dos 80 dias, Jorginho deixou o cargo bem antes do previsto, com apenas 14 jogos (sete vitórias, quatro empates e três derrotas).
Se antes a ideia da diretoria era um treinador promissor e mais barato, agora a lógica se inverte. Diante de um elenco modesto, ainda sedento por reforços, nos últimos dias cresceu no clube o coro pela chegada de um treinador de maior currículo, que possa aguentar a pressão durante o Campeonato Brasileiro.
O nome de Mano Menezes, já cotado após a saída de Dorival Júnior, frequentemente circula pelos bastidores. Muricy Ramalho, recém-demitido do Santos, também já foi lembrado. O certo é que a cúpula de futebol rubro-negro ainda engatinha para traçar o profissional a ser convidado para novo técnico. Após ter dois comandantes em pouco mais de seis meses, a tentativa agora é gastar a bala e, enfim, acertar o alvo.
1174 visitas - Fonte: ESPN
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