Ilha do Urubu: nova aposta de estádio para o Flamengo

22/6/2017 17:49

Ilha do Urubu: nova aposta de estádio para o Flamengo

Ilha do Urubu: nova aposta de estádio para o Flamengo
Texto: Cláudio Nogueira*

Com a recente inauguração, no último dia 14, nos 2 a 0 sobre a Ponte Preta, do novo Estádio Luso-Brasileiro, popularmente chamado de Ilha do Urubu, o Flamengo espera resolver, ao menos por três anos, um problema recorrente em sua história: a falta de uma praça de esportes, de um campo para chamar de seu.



Quando um grupo de ex-jogadores do Fluminense, então campeão de 1911, deixou as Laranjeiras no fim daquele ano e se transferiu para o Clube de Regatas do Flamengo - à época dedicado apenas ao remo -, convencer os remadores rubro-negros de que futebol era "esporte para homem" não foi o único dos problemas de Borgeth e amigos. Obrigados a usar um uniforme preto e vermelho quadriculado (o Papagaio de Vintém) para diferenciar do listrado dos remadores, os atletas do futebol acabaram indo treinar na praia, pela falta de um campo. Isso acabou aproximando o novo time dos torcedores, que os viam com facilidade, ao contrário do elenco tricolor, que treinava em seu estádio.

Para jogar, porém, os rubro-negros precisavam de um estádio. A solução não estava lá muito longe. Foi o campo da Rua Paissandu, entre os bairros de Flamengo e Laranjeiras, onde o Paysandu, campeão de 1912, mandou seus jogos até 1914, quando abandonou o futebol. Assim, a família de Arnaldo Guinle - patrono e presidente do Fluminense, além de importante dirigente do futebol carioca nas primeiras décadas do século 20 - alugou o espaço ao Rubro-Negro, que ali construiu sua praça esportiva e jogou entre 1915 e 1932. Ao redor do campo da Rua Paissandu, as centenárias palmeiras, existentes até hoje, serviam de moldura. Os maiores públicos do estádio foram Flamengo 0 x 3 Fluminense, em 23 de junho de 1918, e Flamengo 1 x 3 Fluminense, em 24 de agosto de 1919; ambas as partidas registrando cerca de 15 mil pagantes.

Entretanto, é curioso pensar que Guinle, um dirigente do Fluminense, tenha cedido o terreno ao Flamengo. Quando do começo da história das duas associações, estes eram clubes-irmãos. O Flamengo, fundado em 1895, se dedicava prioritariamente ao remo, e o Fluminense havia sido criado em 1902 para a prática do futebol. Como cada um cuidava do “seu” esporte, não eram rivais porque não se enfrentavam. Por isso, não eram incomuns casos como os de Virgílio Leite, presidente do Flamengo em três mandatos (entre 1901 e 1903; de 1906 a 1911 e de 1912 a 1913), mas que havia sido um dos fundadores e diretores do Fluminense. Ou, de acordo com o que o escritor Edilberto Coutinho ressaltava em seu livro "Nação Rubro-Negra": "Fluminense e Flamengo eram como irmãos. A vida de um, muitas vezes, se confundiu com a do outro”.

Os destinos do Flamengo começariam a mudar a 14 de novembro de 1931, quando recebeu do então governo federal, por meio do decreto 3.686, o direito de cessão e aforamento do terreno onde hoje se situa sua sede à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas. Ali, o Rubro-Negro iria construir um estádio, com cercas de madeira. No ano seguinte, a 25 de setembro de 1932, fez sua última partida na Paissandu: 5 a 0 sobre o extinto Brasil, tendo de se despedir do local, por não possuir mais o dinheiro para o aluguel. A partir dali, o clube voltou seus olhos para a Gávea. Tanto que a 28 de setembro de 1933, o então presidente José Bastos Padilha pagou a taxa de 497 contos de réis para que o clube começasse a erguer seu estádio, para 6 mil espectadores.

Empresário do ramo de litografia, bem relacionado no meio da imprensa e do empresariado, Padilha era cunhado do jornalista Mário Filho, dono do "Jornal dos Sports", que dá nome ao Estádio do Maracanã. Padilha assumiu o clube num momento em que o profissionalismo começava a prevalecer no país e que seria implantado por decreto em 1933, por Getúlio Vargas. Houve um período de divisões no futebol do Rio e de vários outros estados, com ligas profissionais e amadoras. Com o claro objetivo de mudar o perfil do clube, até então elitizado e fechado aos negros, Bastos Padilha contratou, em 1936, os atletas negros mais admirados no país: Domingos da Guia, Fausto e Leônidas da Silva, que se tornaria a maior estrela do futebol brasileiro nos anos 30 e 40 (aí já pelo São Paulo).

À época, o Flamengo vivia um jejum de títulos cariocas após ter sido campeão em 1927. A conquista seguinte só se daria em 1939, com Domingos e Leônidas na equipe. Eram tempos tão ruins que no Campeonato Carioca de 1933, da Liga Carioca de Futebol (a liga pró-amadora era a Amea, em que o Botafogo foi campeão), o Rubro-Negro acabou em último lugar. O Bangu foi o campeão. Em 1934, também pela LCF, foi o penúltimo da competição, ganha pelo Vasco.

O projeto do estádio seguia adiante. Graças a uma campanha de venda de títulos de sócios, o clube, que já era uma grande força popular, construiu a Gávea, inaugurada em 1938, quando Padilha já havia renunciado por doença. Antes, o então presidente havia começado um projeto cujos frutos são colhidos até hoje, o de popularização nacional do Fla. Em parceria com Mario Filho, lançou no "Jornal dos Sports", em 1937, as campanhas “Futura Geração Flamenga” e “Pelo Brasil e pelo Flamengo”, destinadas a crianças e jovens. Na mesma época, como parte do projeto de popularização, foi lançado o filme “A alma e o corpo de uma raça”, no qual uma atleta branca do clube se apaixonava por um centroavante mulato da equipe de futebol.

Já sem Bastos Padilha na presidência, a equipe da Gávea inaugurou seu estádio a 4 de setembro de 1938, pelo Campeonato Carioca, no clássico com o Vasco, que venceu por 2 a 0, gols de Niginho. O sonho era tornar aquela praça de esportes, muito elogiada pela imprensa, um espaço capaz de futuramente sediar até eventos olimpicos.

Na decisão do Campeonato Carioca de 1941, no Fla-Flu do dia 23 de novembro, o Tricolor jogava pelo empate para ser bicampeão. No final da partida com o placar em 2 a 2, jogadores do time das Laranjeiras chutavam a bola em direção às águas da Lagoa (na época a distância do estádio para a Lagoa era pequena), para esfriar o rival. Enquanto isso, remadores rubro-negros atuavam, recolhendo a bola para devolvê-la ao gramado. Tais histórias foram narradas na página 5 de O Globo Esportivo, edição 171 de 1941.

Cerca de uma década mais tarde, com a construção do Maracanã para a Copa do Mundo de 1950, as equipes passaram a preferir se apresentar no então Estádio Municipal. Nos anos 90, porém, o então presidente rubro-negro Luiz Augusto Veloso, mediante parceria com patrocinadores, conseguiu erguer módulos tubulares de arquibancadas para elevar a capacidade do local para 25 mil pessoas e assim poder enfrentar equipes pequenas, fugindo das altas taxas do Maracanã. O estádio passou a servir de palco para shows, e desde 27 de abril de 1997, no jogo Flamengo 3 x 0 Americano, a Gávea não é mais utilizada em partidas profissionais.

Em 2005, quando o Maracanã estava em reformas para os Jogos Pan-Americanos Rio-2007, Flamengo e Botafogo firmaram um contrato com a Petrobras, para reformar o Luso-Brasileiro, da Portuguesa, na Ilha do Governador, transformando-o na Arena Petrobras. Originalmente com 5 mil lugares, a arena passou a receber 30 mil torcedores. O projeto durou cerca de um ano.
Agora, passada a Olimpíada de 2016, e devido à polêmica sobre qual consórcio irá administrar o Maracanã, o rubro-negro anunciou, a 21 de novembro do ano passado, o contrato de três anos com a Portuguesa, para ampliar a capacidade para 22 mil pessoas, com arquibancadas tubulares. Por meio de pesquisa junto à torcida, o local foi denominado Ilha do Urubu.

10854 visitas - Fonte: Globo Esporte


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tb gostei da reportagem.

parabéns pela reportagem! show

Mengão 3 x 1 chapecoence

Arena Mengao!!! hoje 2a1 Mengao!!

mengao 3xo

muito show a reportagem.

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