Ao fechar o contrato que o permite mandar partidas no Maracanã pelos próximos 35 anos, o Fluminense recebeu do consórcio administrador o direito de reservar aos seus torcedores uma área exclusiva do estádio. Os tricolores vão ocupar, no entanto, um local tradicionalmente reservado aos vascaínos: os assentos à direita das tribunas de imprensa, atrás de um dos gols. Na opinião do jornalista Carlos Eduardo Mansur, de O Globo, a nova configuração fere um hábito histórico no futebol da cidade e foi aprovada sem um debate profundo com todos os clubes cariocas e entidades envolvidas no esporte.

- Há um erro de origem, que é entregar o principal monumento esportivo do país e do Rio à iniciativa privada sem que se estabeleça qualquer regra. Não foram ouvidos os clubes, a federação, a polícia, que faz a segurança há 30 anos. Não se respeitou o mínimo da tradição. Tradição no futebol não é bobagem. Mudar isso por decreto tem consequência, é doloroso. Rasgou-se uma tradição sem se discutir, foi enfiado goela abaixo das pessoas - disse no "Redação SporTV".

Mansur criticou o modo com o governo estadual encaminhou o processo de privatização do Maracanã. Segundo o jornalista, os responsáveis pela reforma do estádio, construído em 1950, desprezaram a preservação de qualquer tipo de tradição.

- Quem poderia atuar como mediador? O governo. Mas quem é o governo do estado para pedir algo em favor da tradição se ele reformou sem guardar sequer um traço de tradição? O problema foi permitir que o contrato fosse fechado sem se resguardar o mínimo de apego ao tradicional - disse.

Após a reforma, o Maracanã passou a contar com quatro novas rampas, além das duas grandes rampas monumentais, voltadas para a estátua do Bellini e para a Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Historicamente, Flamengo e Vasco sempre tiveram lugares fixos nas arquibancadas do estádio. Com o contrato firmado pelos tricolores, o Cruzmaltino perdeu o direito de ocupar seu espaço tradicional.