Rodrigo Dunshee é o VP Geral e Jurídico do Flamengo (Foto: Marcelo Cortes / Flamengo)
Entrevistado desta segunda-feira do "Papo Virtual", na FlaTV, Rodrigo Dunshee, VP Geral e Jurídico, falou sobre o trabalho do departamento jurídico do clube no caso do incêndio no Ninho do Urubu, em fevereiro de 2019, que vitimou 10 atletas da base. O dirigente ressaltou que o clube segue a fim de chegar a um acordo com todas famílias, mas que não irá oferecer um valor diferente àquele aceito pelos familiares de Gedinho, Vitor Isaías e Athila Paixão e com o pai de Rykelmo - a mãe do volante foi a única que acionou o clube na Justiça, por ora.
Na entrevista, Dunshee afirmou que o clube voltou a se reaproximar das famílias após reclamações das mesmas, e também que "oportunidades estão sendo perdidas" por conta do não acordo entre as partes: "estão chateadas".
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- Queremos resolver a questão financeira, mas entendemos que o valor que demos para três famílias e meia não pode ser menor que as demais. Chegamos em um valor aceito. O valor base precisa ser igual na outra família. Não seria justo com a família que fez o acordo, que acreditou no Flamengo em primeiro lugar. Acho que as famílias que não fizeram o acordo estão perdendo uma oportunidade. O Flamengo não quer terceirizar o dano. O Flamengo sabe da responsabilidade dele. Milhões de oportunidades estão sendo perdidas. Já poderíamos ter feito um jogo para as famílias, mas temos dificuldades. As famílias estão chateadas com a gente, pois não chegamos a um valor que julgam correto. Há famílias que estão mais próximas, outras muito distantes. Ainda acho que, com essas famílias que estamos mais próximos, chegaremos a um entendimento - afirmou Rodrigo Dunshee em entrevista ao canal do Fla.
Confira, na íntegra, a resposta de Rodrigo Dunshee sobre a atuação do departamento jurídico do Flamengo no caso do incêndio no Ninho do Urubu:
"O Jurídico do Flamengo tem uma boa estrutura. São 10 advogados, contando com o diretor. Tem a área de direito esportivo, tem área de direito civil, trabalhista, de contratos. São muitos contratos no Flamengo. São 1700 contratos feitos em 2019. Trabalhamos com uma equipe reduzida, mas contando com terceirizados para acompanhar essas áreas. Tem a área de contrato de jogador. É uma área sensível. Funciona redondo, mas tem muito trabalho.
Tivemos a tragédia do Ninho, que aumentou a exigência do trabalho na área jurídica. Recebemos o Maracanã, que é mais uma unidade de negócios que gera mais contratos e negociações. Estamos participando da licitação e é o jurídico que está á frente disso. São milhares de situações que participamos. Um jurídico forte é importante demais para o crescimento do clube.
Quando aconteceu o incêndio, tivemos vários problemas. O Ninho não tinha alvará, não tinha aprovação dos Bombeiros, os alojamentos tinham problemas com o juizado de menores, tinha problema de Habite-se. Fizemos um setor para cuidar dessa parte jurídica e de legalização. Atuamos também na área governamental, uma vez que a Prefeitura chegou a interditar o CT. Tiramos um alvará provisório e depois convertemos em definitivo. Conseguimos a aprovação junto ao Corpo de Bombeiros. Agradeço a atenção que nos foi dada. O Flamengo estava passando por um processo emergencial, o Corpo de Bombeiros foi rigoroso, mas fez um TAC com o Flamengo. Hoje está tudo certo. A questão do juizado de menores é delicada. O Flamengo, em 2015, se recusou a fazer um TAC com o MP e acabou virando uma ação civil pública justamente por causa dos alojamentos. Era sempre fiscalizado. Então quando houve o acidente, o juiz interditou para menores o Ninho. Tivemos que conversar com o MP, fizemos um TAC bem rigoroso, que é sempre acompanhado pelo MP. Conseguimos resolver, em três, quatro meses, todos os problemas. Foi uma batalha. Tudo foi resolvido.
A questão mais difícil é a das indenizações das famílias, pois não depende apenas da vontade do Flamengo, e também das vontades das famílias. Fizemos três acordos de vítimas fatais e com todos sobreviventes. Fizemos uma proposta que julgo muito adequada para a situação, muito superior ao que se dá na Justiça, os acordos que são feitos por aí. Chapecoense, Brumadinho... Super acima. O Flamengo tem consciência disso. Para fazer acordo precisam duas partes. Fizemos esses três acordos e meio, e as outras seis famílias ainda não houve acordo. Uma está judicializada, que é a mãe do Rykelmo, que pediu R$ 7 milhões.
O Flamengo é um clube sem fins lucrativos. Investe tudo que tem nos esportes. O Flamengo gasta o que ganha. O lucro são os títulos. Existe muita gente incentivando as famílias a enxergar um patamar que está fora do padrão. Estive na Alerj, foi uma situação complicada. O Seu Edson (pai do Pablo), conversamos. Ele tinha dito em um programa, perguntado se eu e Landim temos filhos, como dormimos. É fácil colocar a questão dessa forma, mas é muito mais delicado. Eu não tive participação no ocorrido, eu sou advogado do Flamengo e estou aqui para defender o Flamengo. Chego em casa e durmo, pois não tive culpa com o que aconteceu com o filho dele. Sinto muito, mas a questão financeira é separada da afetiva. O Flamengo está fazendo um trabalho com o Maurício Gomes de Mattos, Vitor Zanelli, Walter D'Agostino, de ficar mais próximo das famílias. Levou as camisas autografadas com os nomes do meninos.
Queremos resolver a questão financeira, mas entendemos que o valor que demos para três famílias e meia não pode ser menor que as demais. Chegamos em um valor que fosse aceito. Então, se uma família perdeu o filho, o valor base precisa ser igual na outra família. Não podemos dar mais para uma. Não seria justo com a família que já fez o acordo, que acreditou no Flamengo em primeiro lugar. Eu acho que as famílias que não fizeram o acordo estão perdendo uma oportunidade. O Flamengo não quer terceirizar o dano para a torcida. O Flamengo sabe da responsabilidade dele. Milhões de oportunidades estão sendo perdidas. Já podíamos ter feito um jogo para as famílias, mas temos dificuldades. As famílias estão chateadas com a gente, pois não chegamos a um valor que elas julgam correto. Hoje temos essa situação. Tem famílias que estão mais próximas, outras que estão muito distante. Ainda acho que essas famílias que estamos mais próximos chegaremos a um entendimento.
Agora, nesse momento de pandemia, o Flamengo deu férias gerais aos seus funcionários. O Maurício, que estava mais à frente dessa questão de estar próximo das famílias, esteve contaminado. Então, as coisas ficaram paradas globalmente. Mas, assim que forem retomadas, a gente tem muita fé que possamos fechar os acordos e, pelo menos com uma maioria, partir para fazer coisas e estar juntos, independente de estarmos fazendo essa aproximação. Eles reclamaram com razão que havia uma distância. Havia uma distância porque o tempo foi esfriando a relação. Quando reclamaram, o Flamengo reconheceu e se reaproximou."
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