Mesmo em clubes com boa estrutura como Flamengo e Athletico-PR, foi necessário recorrer a profissionais com experiência para lidar com peculiaridades do futebol brasileiro. E entre Dorival Junior e Felipão, ambos opções em baixa, uma qualidade foi determinante para levar as duas equipes à final da Libertadores hoje, 17h, em Guayaquil: domar o tempo e o vestiário.
Diante de uma equipe jovem, o Athletico precisava de maior peso nas tomadas de decisão. Já o Flamengo, com um elenco renomado, de um comandante capaz de dividir responsabilidades e recuperar uma equipe milionária que não dava resultados. Além da questão tática, Dorival e Felipão reforçaram o perfil de gestores de pessoas. E precisaram usar estas habilidades para compensar a escassez de oportunidades para preparar as equipes a partir do meio da temporada.
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Se o português Paulo Sousa não conseguiu aproveitar o início do ano para colocar em prática novas ideias na busca por resultados, Dorival fez o que se convencionou a chamar de feijão com arroz. Deixou os atletas confortáveis para jogar e se expressar, priorizou a consistência defensiva, e sobretudo alinhou o trabalho técnico com profissionais do clube já acostumados à maratona de jogos e a necessidade de controlar a carga física. Inclusive, indicou o fisiologista do Athletico, Tadashi Hara, com quem tinha trabalhado em 2020, para reforçar o Flamengo.
— Dorival é um dos melhores treinadores do Brasil. Se o Dorival é arroz com feijão, tem batata frita, tem salada, tem pudim de sobremesa, tem entrada, tem bife... tem tudo — resumiu Gabigol, à Conmebol.
Aos 60 anos, o treinador nascido em Araraquara, São Paulo, foi também jogador e até comandado por Felipão, no Grêmio, em 1993. A carreira de Dorival fora das quatro linhas começou em 2022, mas o ápice foi vivido em 2010, com o Santos campeão da Copa do Brasil. Se erguer a Libertadores, será sua primeira conquista internacional. Caso o Athletico leva a taça pela primeira vez, Felipão se tornará o primeiro brasileiro tricampeão da América e o primeiro a vencer por três clubes diferentes (Athletico, Palmeiras e Grêmio) após 40 anos de carreira.
A demanda no clube paranaense era por um treinador que poderia tirar o melhor de jovens atletas com uma boa conversa e através de vídeos no vestiário. No Palmeiras, em 2018, Felipão já havia sido capaz de transformar o ambiente de cobranças em uma família. A partir da retaguarda da diretoria, que lhe deu condições de manter o elenco equilibrado com trabalhos físicos e mentais, coube ao treinador se responsabilizar pelas questões anímicas, dentro e fora de campo. E assim como Dorival, demonstrar estar atualizado para um rodízio consciente entre três competições.
Depois de ficar marcado pelo 7 a 1 da Alemanha sobre a seleção brasileira, que apagou para o público brasileiro o grande feito com a seleção de Portugal e a ida ao Chelsea em 2008, Felipão fez trabalhos de recuperação no Brasil com o Grêmio, em 2014 e 2021, Cruzeiro em 2020, e ganhou títulos na China entre 2015 e 2017, pelo Guangzhou Evergrande. Aos 73 anos, já alinhou que deixará a função de treinador para assumir uma função diretiva no Athletico, com ou sem título.
— Martirizaram ele como grande culpado, mas é o último campeão, que conseguiu agregar uma seleção que o povo aplaudisse. Teve uma capacidade de ganhar tudo no futebol brasileiro. É um cara vencedor. Se confirmar a conquista nesse encerramento de carreira, seria um prêmio para o clube e para o Felipão — afirmou o diretor do Athletico, Alexandre Mattos.
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