Filipe Luís teve grande atuação contra o Fluminense, no último sábado — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo
O Flamengo, atual campeão da Libertadores, inicia a busca pelo tetra nesta quarta-feira, às 19h (de Brasília), contra o Aucas, do Equador. Os últimos anos têm sido prósperos, e, de 2019 em diante, o clube venceu 70% dos jogos disputados pela competição (33 vitórias, nove empates e apenas cinco derrotas). O palco da estreia, porém, é local de dificuldades para os rubro-negros. Foram cinco jogos em Quito contra equipes locais, com três derrotas, um empate e uma única vitória.
O Flamengo terá pela frente um estreante na Libertadores e que teve seu elenco desmontado após a inédita conquista do título equatoriano. Outro duro adversário, porém, é a altitude de Quito, que fica localizada 2.800 metros acima do nível do mar.
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Jogador com experiências em La Paz (3.625m) pela seleção brasileira, Filipe Luís não pensa duas vezes ao ser perguntado sobre qual foi o jogo mais difícil que já disputou na altitude com a camisa do Flamengo. Elegeu a primeira partida da Recopa Sul-Americana de 2020, contra o Independiente del Valle. O duelo em Quito terminou em 2 a 2, placar generoso com os rubro-negros na opinião de Filipe, e deixou os brasileiros extenuados.
- O mais complicado que joguei foi contra o Del Valle do Ramírez, em 2020, da Recopa, na altitude. Foi muito difícil. Começamos o jogo perdendo, viramos, mas eles empataram no fim com um gol de pênalti. O 2 a 2 foi um resultado completamente enganoso, um jogo super difícil. A gente tentava pressionar e não conseguia. Eu lembro da sensação de olhar para os companheiros da linha de marcação atrás e não conseguir nem falar. Sofrimento demais.
- Foi o jogo mais complicado de todos. Acabamos saindo de lá vivos e em casa vencemos por 3 a 0 e fomos campeões da Recopa. Foi bom, foi especial, mas só quem jogou aquele jogo sabe o sofrimento que foi (risos) - disse Filipe, em entrevista gravada durante o Media Day da TV Globo, na última semana.
Filipe lembra que Jorge Jesus, treinador do Flamengo naquela decisão, irritou-se muito com a postura de seus comandados em campo. Somente após o fim do jogo pôde entender o quanto se desgastaram.
- Lembro de muitas discussões até com o Jorge Jesus na época porque a gente não estava fazendo o que ele queria, mas é que não dava. Fisicamente não dava. A gente não estava conseguindo, a gente não chegava, e ele não aceitava. A partir daquele jogo ele entendeu o que era jogar mesmo na altitude e sentir a dificuldade da altura.
Ribeiro cita preparação especial
Ciente dos efeitos da altitude, o capitão Everton Ribeiro sabe que as rotinas rubro-negras mudam com a volta do Flamengo à capital equatoriana.
- A gente tem uma preparação especial para jogar quando tem altitude, muda a alimentação, e os suplementos a gente acaba fazendo mais. Há uma preocupação de todo o staff, o Flamengo tem uma estrutura muito boa. Então, com isso, o clube tenta minimizar os efeitos da altitude. A gente sabe que vai ser difícil, mas vai se preparar bem para começar bem com o pé direito e tentar uma vitória fora de casa - opinou o camisa 7, também em gravação durante o Media Day da Globo.
Filipe cita gramado fofo e cuidados a serem tomados
Jogador que mais detalhou as dificuldades encontradas em Quito, Filipe foi além e fez uma análise mais abrangente sobre o futebol equatoriano. Afirmou que os clubes locais adotam gramados fofos para apostar na velocidade de seus atletas pelos lados do campo.
- O gramado dos times do Equador é mais fofo, e a bola quica e não sai. E eles costumam utilizar isso com jogadores muito velozes pelas alas e jogam muito a bola no espaço. Temos que estar muito atentos a essa bola no espaço e às bolas nas costas. Temos que correr muito antes, isso faz com que não estejamos tão compactos no campo.
- Temos que ter cuidado com esses lançamentos porque a partir daí dá cinco metros a mais para o adversário jogar. Mas por outro lado eles também sofrem. Com certeza vamos ter nossas opções e esperamos fazer um grande jogo, mas principalmente viver de novo esse ambiente da Libertadores, que é tão especial e faz com que o nosso ânimo levante.
Atleta mais experiente do atual elenco, Filipe acredita que a dosagem de energias e a busca constante pela bola são estratégias interessantes para atenuar os efeitos da altitude, já que obrigaria o adversário a correr e consequentemente desgastaria menos o Flamengo.
- É um jogo difícil porque na altitude a sensação sempre é de que você está sem força. Sensação de que eles são mais rápidos, mais leves e que eles estão melhores com a bola. Temos que reconhecer essa sensação fisiológica do nosso corpo e a partir daí tentar controlar e dominar o jogo com a bola. Fazer com que eles corram e que eles se desgastem mais. É difícil, é uma situação complicada nesse jogo, mas acredito que, com toda a experiência nessa história, a gente consegue fazer um grande jogo.
Confira outros tópicos do papo com Filipe Luís
Como a altitude age no organismo de atletas que não estão acostumados?
- No começo do jogo você até se sente bem. Nos 10 primeiros minutos parece que você está bem. Conforme você não vai mais recuperando, o fôlego não vai vindo... Você se esforça, vai na linha de fundo para cruzar e não recupera. Aí você faz esforço sobre esforço. Parece o momento em que a sua força acaba. Minha sensação é que eu não tinha força para fazer as minhas jogadas. E aí o jogador adversário que está, sim, adaptado à altitude vai com muito mais leveza e mais facilidade. Leva a bola com a força, e eu sinto que tenho que fazer muito mais força para qualquer tipo de jogada.
Peculiaridades da Libertadores e história de Filipe na competição
- São dois títulos e três finais. Valorizo muito aquele vice-campeonato que tivemos contra o Palmeiras, em 2021. A nossa caminhada até lá foi muito especial. É uma competição muito diferente e exige uma preparação para cada jogo de uma forma muito diferente. Não é igual à Champions onde os campos são iguais, padronizados e as viagens são curtas. Na Libertadores realmente as viagens são muito mais longas, a cultura do país onde vamos jogar é muito diferente, os times são muito diferentes, o ambiente e os gramados também são.
Flamengo cada vez mais cascudo na Libertadores
- É muito difícil de ganhar (a Libertadores), por sorte o Flamengo tem uma tradição forte. Já tem o título de 81 e agora essas três finais seguidas. Estamos cada vez com mais experiência para jogar esses jogos, que realmente são jogos diferentes.
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