A química de Diego Aguirre ou “La Fiera”, como é chamado aqui em Montevidéu, com o Peñarol , rival do Flamengo na noite desta quinta-feira (26) às 19h pela CONMEBOL Libertadores e com transmissão pelo Disney+ , é inexplicável. Autor do gol que deu ao clube seu último título da Libertadores – no minuto 120 do terceiro jogo contra o América de Cali-COL , em 1987 –, ele também foi o técnico que levou o “Carbonero” à última das dez finais de Libertadores que disputou, em 2011, contra o Santos . Desde que ele saiu após aquele jogo no Pacaembu, o Peñarol sequer havia passado da fase de grupos. Hoje, prestes a completar um ano em sua terceira passagem como técnico do time, Aguirre vive a expectativa de chegar a uma segunda semifinal na função. “La Fiera” é o talismã aurinegro. E ele sabe valorizar essa relação.
No início da semana, mandou uma mensagem ao presidente do clube, Ignacio Ruglio, às 7h20 da manhã dizendo “estamos vivendo um sonho”. Ao final de cada vitória nesta já histórica campanha, ele sai de campo bradando “Peñarol, nomás” (algo como Apenas Peñarol), uma expressão muito usada aqui no Uruguai e que serve para inflar o ego dos torcedores. E que funciona também para mitificar sua imagem junto à imensa torcida do clube, que vive uma semana de euforia.
Mas que receita Aguirre usou para trazer o time até aqui? O grande trunfo foi conseguir a contratação do talentoso Leonardo Fernández, de 25 anos. O meia de 1,66m estava no elenco do Fluminense ano passado e foi campeão da Libertadores, embora praticamente não tenha participado da competição. Sem espaço no time de Fernando Diniz, Fernández voltou à cidade onde nasceu depois de altos e baixos nas aventuras que teve também no México e no Chile, e justamente para envergar a camisa do time contra o qual estreou como profissional, com derrota de 2 a 0, em 2015.
Nem Diego Aguirre e nem Leo Fernández estavam em alta quando chegaram ao “Campeón del Siglo”, e talvez nem os dirigentes do clube soubessem que estavam juntando dois profissionais que trariam de volta a “alegria ao coração” de sua torcida. O maior mérito do treinador foi saber construir um time em torno das qualidades que o pequeno camisa 8 possui – especialmente a batida de pé esquerdo. Leo tem um chute potente e cheio de efeito que transforma toda falta (direta ou indireta) ou mesmo escanteio em chance de gol. Sim, ele também arrisca de longe com bola rolando.
Outra qualidade é o passe: preciso e inteligente. Ele sabe a hora de acelerar ou cadenciar a jogada. É o jogador diferente do elenco, mas tem grande dificuldade física. Além de baixo, é muito franzino e normalmente perde as disputas no corpo a corpo. Também não tem muita velocidade. Aí, entrou o trabalho meticuloso de Aguirre de montagem do time.
Ele construiu um elenco que tem jogadores prontos a suprir as carências de Leo Fernández. Nomes como o centroavante Maxi Silvera, os pontas Cabrera e Báez e o coringa Darias entregam ao time força, velocidade e aplicação tática. Protegendo a defesa, o jovem Damián Garcia, campeão mundial sub-20 ano passado com a seleção uruguaia, se coloca à frente de uma linha de quatro jogadores que raramente vão ao ataque. Todo mundo corre um pouco mais para que Leo seja o regente da equipe.
A formação do elenco é parecida com o que um clube uruguaio consegue fazer. Uma mescla de jovens da base, que quando se destacam são rapidamente vendidos, jogadores veteranos que retornam ao país natal depois de um longo período no exterior, como o lateral Maxi Olivera e o meia reserva Gaston Ramírez, e aqueles que nunca chegaram ao futebol europeu, mas têm nível para brigar pela bola no futebol das Américas. Uma curiosidade deste elenco é que muitos passaram pelo futebol brasileiro. A começar pelo próprio Aguirre, ex-jogador de São Paulo e Inter , que também treinou Atlético-MG e Santos.
Vários jogadores passaram por times brasileiros sem muito sucesso, como o goleiro Aguerre ( América-MG ), o lateral Lucas Hernández (Atlético-MG) e o centroavante Silvera (Santos). Sem falar nos que são brasileiros de fato – o zagueiro Leo Coelho e o centroavante Matheus Babi. Não dá pra chamar esse Peñarol de uma revolução administrativa. É uma camisa histórica que encontrou dois caras que, juntos, deram muita liga. E resgataram a mística carbonera, independentemente do resultado contra o Flamengo.
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