Como diferentes gerações de fotógrafos se encontram para eternizar momentos do Flamengo
Quem chega ao Ninho do Urubu faz uma viagem no tempo pelos momentos marcantes do Flamengo. No dia a dia do futebol, Gilvan de Souza e Adriano Fontes são, atualmente, os responsáveis por garantir que tudo que é vivido pelo Rubro-Negro esteja eternizado. De gerações distintas, os dois falam com o mesmo brilho no olho sobre a possibilidade de registrar em fotos a história do clube.
Posso falar para você que é indescritível. Não tenha dúvida. É eternizar o momento do clube como um todo, das pessoas envolvidas com ele, com o torcedor, com o jogador. É muito louco saber que tem gente que pega a sua foto e faz tatuagem, que eterniza de uma outra forma qualquer com quadro, faz um banner, não sei. É um sentimento muito louco — definiu Gilvan.
É meio clichê falar isso, mas é de fato inexplicável. Eu acho que eu sempre fui um cara que, desde quando eu me entendi como fotógrafo, eu busquei colocar as emoções e o sentimento na fotografia. Eu acredito que as fotos já descrevem isso. Essa honra que é poder trabalhar no Flamengo e eternizar esses momentos. Assim como é uma honra, é muito maneiro e tal, é uma responsabilidade muito grande. E esse contexto de responsabilidade traz essa importância também de sempre buscar registrar da melhor forma. Então, assim, é um orgulho, acho que não só para mim, mas para toda a minha família rubro-negra, que vive esse sonho comigo também — disse Adriano.
Nesta terça-feira, 19 de agosto, se comemora o Dia Mundial da Fotografia. Gilvan tem 54 anos, 26 deles dedicados à fotografia. Baiano de Juazeiro, foi uma câmera pequena ganhada pela mãe que despertou o interesse no assunto. Para aprender a mexer, anos depois ele entrou em um curso sem nem pensar em exercer a profissão. Uma oferta de estágio em um jornal mudou tudo e reescreveu a história. Quando chegou a proposta do Flamengo em 2014, ele achou primeiro que era o bairro. A ficha só caiu quando o trabalho começou. São 11 anos de clube.
Toma proporção muito absurda, é muito louco. Eu realmente confesso a você que eu não tenho noção, apesar de tanto tempo de Flamengo, não tenho noção do que é trabalhar aqui ainda. Não tenho, eu falo com toda sinceridade do mundo. Tem gente que aborda na rua, fala. A gente vai a alguns lugares que não tem o costume de receber Flamengo, tipo Nordeste, às vezes a galera fala que acompanha as fotos. Eu pego Uber, de cada 10 motoristas, 5 reconhecem. Pelo nome que é diferente, associam, um cara de Flamengo, só pode ser ele. O Flamengo proporciona umas coisas na minha vida que eu jamais imaginei passar. Nunca.
Adriano tem 25 anos, mas a trajetória como fotógrafo começou aos 14 graças à experiência da irmã jogando futebol feminino. Ele está no Fla oficialmente há sete meses e já presta serviços para o clube desde 2021. Hoje, ele vive a experiência de dividir o dia a dia com uma das principais referências na profissão: Gilvan.
Hoje, eu trabalho com o Gilvan, que é um ídolo para mim. Quando eu comecei, me inspirava nele. Tenho muitas lembranças de fotos que eu via dele e que hoje eu posso reproduzir. Uma coisa legal, que eu jamais vou me esquecer, foi que ele me colocou para fazer a foto do título do Campeonato Carioca. Aí vem a questão da responsabilidade. É uma foto que vai ficar marcada, que está aqui no CT exposta e que vai ficar para sempre na história de um título. Ele me dar essa oportunidade ali na minha primeira final, foi algo que me marcou — comentou Adriano.
Aquela foto de 2019, do ônibus, que eu sempre vou falar dessa, porque realmente é uma das mais emblemáticas. É a foto na ponte, indo para Lima. A foto dos três goleiros assistindo ao primeiro treino do Júlio César aqui, uma foto no CT também dos jogadores correndo em campo e dois molequinhos levantaram a placa de publicidade do lado de fora, olhando os jogadores. Tipo, um dia eu vou estar ali naquele campo. Uma da base que acabei de tirar e gostei muito. A do Vinícius Júnior, que virou um mosaico, com o gol contra o Emelec na Libertadores, o óculos com uma lente só. Do lado de fora do CT, as imagens da conquista da Libertadores de 2022 e da festa em 2019 recebem os visitantes. Na entrada do módulo profissional estão as fotos que enaltecem títulos e, principalmente, a torcida. Já na parte interna, onde o acesso é restrito, os jogadores são contemplados um a um com um registro e há uma parede apenas com as conquistas mais recentes. Cada um deles está marcado no corredor, inclusive quem é promovido das categorias de base. Os dois entram em acordo sobre as melhores imagens e rapidamente o atleta ganha o espaço na parede. Os capitães da equipe em molduras verticais e os outros em horizontais. Quando registrou Bruno Henrique beijando a camisa do Flamengo, Gilvan já estava há alguns minutos completamente molhado com a tempestade que caiu em Belém na Supercopa do Brasil. Foram seis horas encharcado, mas sem poder perder o foco da primeira taça do time na temporada. Essa é uma das adversidades encontradas. Ainda tem a luz, a internet, o transporte do equipamento pesado. — Eu busco transformar essa responsabilidade, essas dificuldades do dia a dia que acontecem, faz parte de todos os trabalhos, em realização, em poder fazer o melhor pelo clube, construir uma narrativa que faz sentido — disse Adriano.
Além de Gilvan e Adriano, o Fla tem outras duas fotógrafas. Mariana Sá e Paula Reis ficam na Gávea responsáveis por futebol feminino, categorias de base, esportes olímpicos e pautas institucionais. Em alguns momentos, elas também registram as emoções da torcida. O tempo de profissão não muda o desejo de se reinventar a cada clique. A imagem perfeita pode vir de um gol em um jogo qualquer, um encontro de torcedores na favela do Rio de Janeiro ou até de um treinamento, mas precisa contar uma história.
Eu costumo falar que é uma briga minha comigo mesmo, de a cada dia, a cada jogo, a cada treino, eu tentar fazer uma coisa diferente. Porque chegar no campo e fazer o que está ali, o trivial, as fotos do lance de jogo, isso aí está ótimo, mas eu sempre penso em fazer uma coisa diferente. Nem sempre consigo fazer o que eu quero, depende de uma série de fatores. Mas o maior desafio é esse, tentar fazer algo diferente sempre. O prazeroso é você poder registrar momentos únicos e marcantes desse clube gigante aqui. É o termômetro que eu tenho é a galera da rua, o torcedor — finalizou Gilvan.




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