Gabriel Appelt em ação pelo Livorno


O dia 13 de fevereiro de 2011 jamais sairá da memória de Gabriel Appelt. Com apenas 17 anos e atuando pelo modesto Resende, recebeu do técnico Paulo Campos a dura missão de parar Ronaldinho Gaúcho, que tinha acabado de voltar ao Brasil e estava jogando pelo Flamengo, em partida pelo Campeonato Carioca.

"Não precisei ver nenhum vídeo dele porque o conhecia muito bem, mas foi inesperado quando o treinador me pediu para marcá-lo. Era um estímulo enfrentar o Fla e a minha missão foi ainda mais especial", diz o atual meio-campista do Livorno, da segunda divisão italiana.

Durante o jogo, ele colou no melhor jogador do mundo de 2004 e 2005 como um carrapato. Apesar da vitória do time rubro-negro por 1 a 0, o craque teve uma atuação fraquíssima, perdeu quase todos os lances que tentou e foi substituído por Muralha. "Precisava mostrar serviço e melhor prova de fogo não existia. Ele não fez nenhum gol, marquei-o muito bem. No jogo ele falava ‘Me dá uma folga, dá um espaço' (risos)", diverte-se.

Após a partida, Gabriel tentou trocar camisas com o ídolo, mas não foi possível. Se não ficou com o manto, ganhou algo ainda mais valioso. "Ele me elogiou e disse que tinha feito boa partida. No nervosismo do jogo, infelizmente a gente conversou pouco".

Como a imprensa italiana estava em cima do craque ex-Milan e Barcelona, os feitos do jovem não passaram em branco na Europa. "Nos jornais italianos saíram que um garoto de 17 anos tinha parado o Ronaldinho. Vieram propostas de vários clubes do Brasil como o Santos e de fora chegou da Juventus, Inter de Milão, Liverpool e uma da Alemanha".

O time de Turim foi mais rápido e acabou levando a melhor. "Um empresário e um funcionário da Juventus vieram me observar e assistiram um jogo contra o Botafogo. Eles queriam me ao vivo e chegaram com proposta".

Por ser muito novo ainda não queria ir para o Velho Continente, mas o a oferta de 2 milhões de euros foi irrecusável. "Queria fazer carreira e um pouco de história para depois sair com algum reconhecimento daqui. Mas veio logo uma Juventus, que eu não esperava, foi a realização de um sonho".

Assim que chegou à Itália, o meia ficou seis meses apenas treinando nas categorias de base porque era menor de idade. O clube queria que Gabriel se adaptasse ao estilo de jogo diferente e ao país.

"No começo, não entendia nada de italiano, meu irmão veio junto comigo, mas ficou só seis meses. Ele acabou não jogando e foi para outros clubes e hoje está na Suíça. O mais difícil era pedir comida em restaurante, a gente só ia em lugares que tinham cardápio com fotos, mas passava cada sufoco (risos)", recorda Gabriel.

Gabriel Appelt com a camisa da Juventus

Logo em seguida, foi integrado ao elenco principal da equipe. "Me sentia até meio perdido no começo". Entre os novos colegas de time, estava Alessandro Del Piero, um dos maiores ídolos do clube alvinegro e com quase o dobro da idade do brasileiro. "Em um dos primeiros trabalhos lá estava conversando com ele, que tinha uns 34 anos na época. Ele perguntou ‘quantos anos você tem?' Eu disse 17. Ele respondeu ‘Você tem idade pra quase ser meu filho, estou ficando velho mesmo' (risos)", recorda o brasileiro que apesar de treinar entre os badalados atletas, atuava ainda pela base.

"Achei que não era bom porque queria jogar no profissional e aqui eles têm um modo de amadurecer o jovem. Eles emprestam para times de divisões inferiores para ver se os jogadores conseguem se adaptar ao profissional".

Ronaldinho reclama durante a partida contra o Resende


Gabriel começou a rodar por clubes da Série B, como Pro Vercelli, Spezia e Pescara. "Fui titular nos times, mas tive azar de ter tido duas lesões que me atrapalharam bastante nos últimos anos, quando estava numa ótima fase", diz.

Agora com 21 anos e afastado do departamento médico, o carioca que iniciou a temporada no Pescara e se transferiu ao Livorno, curte o momento. "Estamos brigando pelo acesso. O campeonato está bem equilibrado e ainda temos chances", avalia. O Livorno está em oitavo lugar com 58 pontos e pegaria o Bologna nos playoffs pelo acesso.

Para a próxima temporada, o jogador tem planos mais ousados. "Quero atuar num time de Série A do italiano, aqui é degrau por degrau". Um possível retorno a atual campeã italiana é um sonho um pouco distante. " Mesmo pelo que eu estou jogando, sendo bem realista é muito complicada uma volta, mas quero mostrar que tenho condições de estar aqui", diz.

Enquanto briga pelo acesso em campo, Gabriel acompanhará pela TV sua Juventus buscar uma vaga na final da Uefa Champions League diante do Real Madrid, nesta quarta-feira, com transmissão dos canais ESPN. No jogo de ida, o time italiano venceu por 2 a1.