Dois jogos em especial não saem da cabeça de Piá, ex-lateral do Flamengo. Não só pelo título, mas pela participação do jogador nas duas partidas da decisão, contra o Botafogo, pelo Campeonato Brasileiro de 1992. O time rubro-negro contava com Júnior, Zinho, Nélio e Gaúcho, mas foi Piá quem mais se destacou: dos cinco gols marcados pelo Fla, três tiveram assistências precisas do lateral, que iniciou a carreira jogando como meia pela esquerda.
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Piá - que também defendeu o Santos - conta como aconteceu a mudança de posição, além de recordar a histórica decisão de 1992, incluindo a trágica queda da arquibancada no Maracanã.
Cinco gols, três assistências... A decisão de 1992
Dono da melhor campanha na competição, o Botafogo tinha a vantagem de jogar por dois empates na decisão do Brasileiro de 1992. Mas logo no primeiro jogo, o Flamengo tratou de não só reverter a vantagem, mas de praticamente encaminhar a taça. Ainda no primeiro tempo, Júnior, Nélio e Gaúcho foram às redes e fizeram 3 a 0, placar que perduraria até o apito final do primeiro jogo. Nos gols de Júnior e Gaúcho, belas assistências de Piá pela esquerda.
Já no segundo jogo, Flamengo e Botafogo empataram por 2 a 2, com mais uma assistência de Piá no gol de Júlio César. Era o suficiente para o Fla levantar a taça nacional mais uma vez.
"Foi uma das melhores partidas que eu fiz, eu digo, nos dois jogos. Para mim foram as partidas ideais que eu fiz, ficou marcado na história da minha vida, até hoje fica na memória de todo mundo, então tudo isso foi marcante, estes cruzamentos e os gols", disse Piá, fã de Zico.
Arquibancada cede no Maracanã, e três morrem
Apesar da alegria pelo título, os jogadores rubro-negros precisaram superar um trágico episódio para entrar em campo na segunda final. Durante o jogo preliminar, uma grade da arquibancada do Maracanã – que contava com 122 mil pessoas – cedeu e provocou a queda de centenas de pessoas para o anel inferior, e a morte de três torcedores. Coube ao capitão Júnior manter o foco do time rubro-negro apenas no adversário da decisão, o Botafogo.
"Na hora da notícia a gente estava dentro do vestiário, no aquecimento, em um campinho que tem dentro do Maracanã, e nós estávamos ali aquecendo e estava acontecendo uma preliminar, e a notícia chegou: 'Pô, aconteceu uma tragédia, caiu parte da arquibancada', e a gente, que estava no aquecimento, ficou chocado com isso, com aquilo tudo, o Maracanã estava cheio demais, só que a gente não podia perder o foco da partida. Foi quando todo mundo se reuniu lá, o treinador era o Carlinhos, ele falou, e o Júnior, que era o capitão, falou também: 'Vamos, vamos e vamos, vamos esquecer, já passou o que aconteceu lá, e vamos focar na final contra o Botafogo'. E foi isso que aconteceu e fomos para o jogo", conta.
A mudança de posição
Natural de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, Piá chegou ao Flamengo com 13 anos. Ainda antes de subir para o profissional, passou por uma mudança que acabaria transformando a sua carreira: por uma necessidade, deixou a meia e foi para a lateral.
"Quando eu fui para o Flamengo eu comecei como meia esquerda, e logo na equipe juvenil machucaram todos os laterais esquerdo antes de começar o campeonato, o Ernesto Paulo era o treinador, e não tinha ninguém com a perna esquerda que poderia atuar naquela posição, então ele me perguntou se eu poderia jogar nesta posição e eu falei: 'tudo bem, eu treino sim'. Eu treinei, ele gostou e me colocou para jogar naquela posição; na meia tinha uma porrada de jogadores, tinha o Djalminha, então para mim foi bom atuar na lateral esquerda, foi bom para mim porque eu estreei na competição e me firmei ali, então eu comecei a jogar na lateral esquerda com o Ernesto Paulo e depois o Valdir Espinoza me subiu para o profissional do Flamengo, isso em 89, e o titular nesta posição era o Leonardo... Aí depois ele foi para o São Paulo e quem assumiu a lateral esquerda fui eu", recorda Piá, que hoje mora em Araruama, na região dos Lagos do Rio Janeiro, e ainda atua pelo Flamengo – no time de Masters.
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