Em clássico quente, Flamengo lava a alma e bate Vasco em jogo com as duas torcidas
Em duelo pelo NBB em Manaus, Rubro-Negro tem Marquinhos e Fischer inspirados para vencer por 94 a 86 e manter a liderança no primeiro jogo com arquibancada cheia dos dois lados
Por Gabriel Fricke, Luciano Ribeiro e Thierry Gozzer, GloboEsporte.com, Direto de Manaus
A chuva que caiu forte em Manaus atrasou o clássico entre Flamengo e Vasco, pelo Novo Basquete Brasil. Mas quem disse que o rubro-negro reclamou? Ao lado da torcida e com a arquibancada rival calada, o time da Gávea jogou no embalo de Marquinhos e Fischer e teve a sua revanche tão esperada, lavando a alma diante do arquirrival. Desde a volta do Cruz-Maltino à modalidade, não havia acontecido ainda um jogo oficial com a presença das duas torcidas. Desta vez foi assim, e o Flamengo, líder do NBB, levou a melhor por 94 a 86 depois de uma partida equilibrada nos três primeiros quartos e de domínio vermelho e preto no período final. Para festejar, Marquinhos, Olivinha e cia se jogaram nos torcedores, em uma comemoração acima do normal, com Olivinha pegando o microfone e cantando "Isso aqui não é Vasco, isso aqui é Flamengo".
Se a atmosfera minutos antes do clássico era de festa e provocação, a forte chuva que caiu em Manaus trouxe apreensão. O teto da Arena Amadeu Teixeira, que sofreu reparos durante a semana, não suportou o volume de água e respingos caíram sobre o piso de jogo. A área ficou muito úmida e funcionários e até máquinas foram usadas para a secagem. Foram 40 minutos de interrupção, caras fechadas e preocupação. O aquecimento das duas equipes foi comprometido. Quando o tempo deu uma trégua, a partida enfim começou, para delírio dos torcedores que tanto esperaram por este momento, por mais que o Clássico dos Milhões tenha migrado do Rio de Janeiro para a Região Norte do Brasil.
- A chuva não atrapalhou a gente. Só estávamos ansiosos para começar logo, para reencontrar a torcida em um clássico. E foi lindo o que aconteceu hoje. A torcida apoiando o tempo todo. Na quadra deixamos tudo. O time foi alegre, intenso, teve uma postura diferente. Colocamos isso os 40 minutos - disse Marquinhos.
Com 25 pontos, Marquinhos foi o cestinha do Flamengo. Ele também pegou seis rebotes e deu sete assistências. Outros destaques do Flamengo foram o pivô Olivinha, com seu 14º duplo-duplo em 23 jogos. Ele anotou 16 pontos e pegou 11 rebotes. Os rebotes, por sinal, podem ter feito a diferença para o Rubro-Negro. Só Olivinha teve sete ofensivos, enquanto o Vasco inteiro pegou sete. Armando a equipe, Fischer fez 18 pontos e teve aproveitamento de 72% nos arremessos. No Vasco, voltando após lesão, David Jackson foi o cestinha do jogo com 26 pontos. Hélio anotou 19, e Gaúcho ajudou com outros 14. O Cruzmaltino entrou em quadra com importantes desfalques. Com lesão da panturrilha, o pivô Bruno Fiorotto sequer viajou para Manaus. Já Nezinho não entrou em quadra devido a uma sobrecarga muscular.
- Não adianta ficar lamentando as ausências. Com tudo isso, poderíamos ter vencido. Pecamos nos rebotes, essa foi a nossa maior falha. Tomamos 94 pontos. E aí é difícil você ganhar um jogo, fazer 95, 96 pontos jogando com uma equipe como o Flamengo. Temos que levar para casa um aprendizado que com tudo isso, ainda poderíamos ter vencido o jogo - disse o pivô Murilo.
Na próxima rodada, na quarta-feira, dia 14, o Flamengo vai até Macaé encarar o time da casa, às 19h30, no Ginásio Poliesportivo. O time é líder do NBB com 17 vitórias em 23 jogos (73,9% de aproveitamento). Do outro lado, o Vasco joga no mesmo dia, em casa, às 20h15, em São Januário, contra o Caxias do Sul. O Cruz-Maltino é o nono colocado, com 12 vitórias e 12 derrotas e 50% de aproveitamento.
O jogo
Em quadra e nas arquibancadas, os 40 minutos de atraso não tiraram a animação das torcidas. Se estavam quietas nesse hiato, pulsaram nas duas primeiras bolas de três de cada lado, com Márcio e Ramón. Enquanto os arquirrivais duelavam por cada centímetro da quadra, nas arquibancadas o eco dos cantos dava o tom. Na metade do período, o Flamengo vencia por 12 a 10, apenas com bolas de três pontos. No meio do quarto, mais uma paralisação, agora por problemas no placar. Cinco minutos mais tarde, o clássico recomeçou e foram Olivinha e Marcelinho quem incendiaram com mais duas bolas de três, abrindo 21 a 12 para o Rubro-Negro. Nos dois minutos finais do quarto, quem fez barulho foi a torcida do Vasco. Empurrado por David Jackson, que voltava de lesão, o Cruz-Maltino colou em 25 a 22.
No primeiro momento com a torcida de pé na Arena Amadeu Teixeira, Marcelinho deu toco em Gaúcho e no contra-ataque Lelê mandou bola de três pontos. Mesmo sem Nezinho, que fazia as vezes de assistente no banco, o Vasco equilibrava as ações. No quarto minuto do período, José Neto, bem bravo, pediu tempo e lavou a roupa suja. No placar, o rival ultrapassava o Flamengo pela primeira vez com 29 a 28. Era momento de só ouvir os vascaínos gritando em Manaus. Enérgico, Dedé, técnico do Vasco, tinha a umidade contra si. Suava mais que os jogadores e tratou de parar a partida quando Marquinhos virou em 33 a 29. O tom do quarto era o equilíbrio. Faltando três minutos, o jogo tinha 36 a 36, e Dedé quase jogou a prancheta no chão quando Marquinhos sofreu falta de Márcio. Em lance que rendeu muita reclamação, David Jackson perdeu a bola e Marquinhos deu 43 a 41 para o Fla na ida para os vestiários.
O show dos bois "Garantido" e "Caprichoso", ícones de Parintins, não tiraram o foco da quadra. O Vasco voltou com cestas de três de David Jackson, mas o Flamengo dava o troco com rebotes ofensivos de Olivinha, Marquinhos e JP Batista, fazendo 54 a 50 nos primeiros quatro minutos de período. A amizade demonstrada na semana em Manaus ficou de lado e o clássico era de muito contato, conversa com a arbitragem e provocação. Na andada do Vasco, Olivinha, 100% no período ao lado de Fischer, se aproximava de outro duplo-duplo. O pivô chamou a torcida ao erguer as duas mãos para as arquibancadas. E funcionou. O Flamengo manteve a dianteira em infiltração do próprio Fischer. No último lance do quarto, David Jackson, que voltou com tudo, chegou ao 20º ponto em lance individual: 68 a 64.
No início dos últimos dez minutos, as defesas pareciam deixar os ataques jogarem, evitando o contato. No terceiro minuto, o Flamengo tinha 73 a 68, e Dedé, que gesticulava muito, pediu tempo. O treinador mostrava preocupação com a condição física do grupo e achava que o Rubro-Negro ganhava terreno ao abrir 77 a 70. No minuto seguinte, José Neto reclamou de falta de ataque do Vasco. Ganhou a marcação e revoltou Dedé, que esbravejou com a arbitragem e levou a falta técnica. Na metade do quarto, o Rubro-Negro abriu sua maior vantagem, colocando 80 a 70. Era nítido perceber que o Vasco havia perdido o foco do jogo. Com seu 16º rebote ofensivo, o Flamengo mostrava domínio do garrafão e mantinha à frente com 86 a 77 faltando dois minutos. Perdido em quadra, o Vasco abdicou do jogo e pagou por isso. Não buscou a aproximação e acabou derrotado, vendo a festa rubro-negra em Manaus após triunfo por 94 a 86.
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