Eles são os únicos no futebol que podem dominar a bola com as mãos. Alguns dizem que é a posição mais ingrata, outros afirmam que um grande time começa pelo goleiro e não à toa normalmente carregam consigo o número "1" nas costas. Às vezes são apontados como vilões, porque precisam evitar o que todo mundo quer ver: os gols.
A figura do arqueiro dentro do futebol é algo tão importante que neste dia 26 de abril comemora-se o dia do goleiro. Paciência, coragem e muita dedicação são algumas das características daqueles que escolhem a posição mais difícil dentro das quatro linhas. Características essas cultivadas por Gabriel Batista, hoje terceiro goleiro do Flamengo. Em bate papo exclusivo com à Goal, ele fala sobre a posição mais controversa do futebol, seus primeiros anos como profissional e suas grandes referências.
A posição de goleiro é meio intraga, só joga um, goleiro não se troca normalmente durante o jogo, você pode fechar o gol mas se tomar um já era... como é ser goleiro?
"Uma frase que sempre lembro do Nielsen (ex-preparador de goleiros do Flamengo) é 'goleiro é esporte individual dentro do coletivo'. Sabemos que se a gente errar... eu sempre falo essa frase comigo, a gente pode fechar o gol e numa bola, numa fatalidade, a gente tomar um gol e perde o jogo, já era. Começar o jogo bem e terminar mal não adianta. Se a gente começar mal, não podemos deixar o erro nos abalar, porque se não vai acontecer de novo. Temos que saber lidar com isso. É uma posição ingrata mas para quem ama, ouvir aquela frase 'agora temos goleiro' é muito gratificante".
Você subiu para o profissional em 2017 e já estamos em 2021. Foram muitos títulos, mas ainda não apareceu uma grande oportunidade de boa sequência, como você trabalha isso?
"Para ser goleiro tem que ter paciência, coragem e frieza, são tópicos que fazem um grande goleiro. A paciência a gente trabalha e ganha com o tempo. Eu subi em 2017, é a minha quinta temporada no profissional. É complicado para nós, ainda mais para goleiro que fica bastante tempo sem jogar. Eu procuro trabalhar firme no dia a dia, estar sempre preparado porque quando a oportunidade aparecer a gente tem que estar focado para aproveitar da melhor forma possível".
Cada vez mais fala-se que o goleiro precisa saber trabalhar bem com os pés e essa é uma característica que você tem, as pessoas sempre comentam como você trabalha bem com os pés, de onde vem isso?
"Eu sou do futsal, jogava como goleiro no futsal, que exige você jogar muito com os pés, mas claro que o principal é defender a baliza. Os goleiros que sabem jogar com os pés tem um diferencial. Eu gosto de jogar com os pés, eu acho que é uma boa oportunidade. Quando o goleiro joga com os pés, quando tem essa confiança, ele consegue construir melhor o jogo, o time consegue ter uma saída de bola melhor. Eu procuro todo dia trabalhar com os pés, tento simplificar o jogo até porque com os pés você não pode complicar muito. Tem um ditado que diz que se o goleiro fosse bom os pés ele não jogava no gol, mas a gente procura sempre fazer o melhor possível".
Os treinadores mais recentes do Flamengo exigem muito esse trabalho com os pés, Dome, Ceni, talvez o Jesus nem tanto. Qual a diferença desses treinadores no estilo de jogo dos goleiros?
"Eles sempre deixaram bem a cargo do Wagner. Na era vitoriosa, que ganhamos tudo, se você prestar atenção, o goleiro não jogava tanto com os pés. O Dome e o Ceni já pedem para o goleiro jogar mais com os pés. Não é que ele (Jesus) não cobrava, ele preferia não correr os riscos, o Jesus pedia muito para a gente simplificar. O Rogério e o Dome já gostam mais da saída de bola, são características diferentes, acho que não tem certo ou errado. Está dando certo, fomos campeões do Brasileirão e da Supercopa".
Como é ter o Rogério Ceni, que é uma referência entre os goleiros, como treinador? Vocês conversam sobre a posição?
"É diferente, a gente sabe que ele foi uma referência, ganhando tudo o que ele ganhou. Ele deixa as coisas muito a cargo do treinador de goleiros, mas ele às vezes vem na gente, conversa, mostra como pode melhorar. Eu sou um cara que gosto muito de ouvir, sempre acompanhei ele, eu pergunto a ele como foi algumas coisas na carreira e a gente acaba conversando. Ele falou que começou a jogar com 24 anos no São Paulo e aí deslanchou, ele falou para ter paciência, continuar trabalhando que hora ou outra a oportunidade vai aparecer".
Quem são as suas grandes referências na posição?
"Eu sempre fui de acompanhar muito o futebol. Acompanhei o Julio na Inter, o Casillas no Real, o Dida no Milan, o Marcos e o Rogério no Palmeiras e no São Paulo. Hoje tenho outras referências como o Oblak, o Ter Stegen, o Lloris. Ter Stegen para mim é o melhor do mundo na posição. Tem o Alisson, essas são as minhas referências, eu sempre vejo vídeo deles e gosto de ver os jogos".
Você falou do Júlio César, você tem a oportunidade de trabalhar com ele, como foi essa experiência?
"Foi incrível, eu vi o Julio jogar a Champions, ser campeão, eu vi o Julio disputar Copa do Mundo, eu jogava com ele no videogame e depois ele estava ali do meu lado trabalhando. Ele é um ídolo, a gente cresce vendo. Eu cresci vendo ele, Rogério, Dida, Marcos. Ele com 38 anos e o que ele fazia nos treinos era algo absurdo. Converso com ele às vezes, mando mensagem, virou mais ídolo ainda. Essa experiência foi muito boa, muito importante".
Você também tem o privilégio de trabalhar no dia a dia com outro grande goleiro que é o Diego Alves, ele começou a temporada arrebentando...
"O Diego é outra grande referência, tudo o que o cara ganhou aqui, ele é do em, no dia a dia a gente conversa muito. Falamos sobre situação de jogo, coisas que podemos melhorar. Ele é tranquilo, vive brincando. Todos os goleiros aqui, a gente se dá muito bem. O clima fica bom, as coisas vão fluindo. O que o Diego fez no Mané Garrincha prova isso, estamos no caminho certo".
Você começou o Carioca jogando os primeiros jogos, na estreia tem um bastidor legal seu num momento de liderança. Como foi iniciar a temporada jogando e especificamente esse momento?
"Jogador de futebol quer sempre estar jogando, começar uma temporada jogando dois, tr6es, quatro jogos é a oportunidade da vida, não só para mim como para todos os garotos, de poder aparecer, mostrar seu trabalho. Foi muito importante. O Max, por exemplo, fez o gol contra o Nova Iguaçu e agora foi relacionado para a estreia na Libertadores. É muito importante. Desde a base eu sempre procurei falar. Eu era um dos capitães e naquele momento sabia que era um dos mais experientes, eu precisava chamar, colocar o pessoal par acima. Graças a Deus deu certo e a gente venceu, era o mais importante".
Nessas cinco temporadas, qual foi o jogo em que você esteve em campo que mais te marcou?
"O meu prmeiro Flamengo e Vasco e a minha estreia contra o Volta Redonda em 2018, mas o meu primeiro Flamento e Vasco foi importante, com as duas torcidas no estádio, nós conseguimos vencer e vencer clássico é sempre bom. Foi o que mais me marcou.
Quais são seus planos para o futuro? Pretende ficar muito tempo no Flamengo ou buscar novos ares?
"Eu trabalho para o presente, trabalho duro para estar aqui no Flamengo, para ganhar oportunidade. Pretendo ficar bastante tempo aqui. Eu fui criado aqui e estou desde os 15 anos, tenho uma grande identificação, amo esse grupo e pretendo ficar mais tempo aqui".
Gabriel Batista
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