Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta presidente da CBF, Rogério Caboclo
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF
A pressão sobre o presidente da CBF, Rogério Caboclo, não é apenas por causa de atitudes grosseiras e alterações de humor que tem tido dentro e fora da entidade, como o UOL mostrou na semana passada. Há também descontentamento de alguns clubes por causa da chamada MP do Mandante, que caducou em outubro de 2020 sem virar lei.
Dirigentes avaliaram que a CBF pouco atuou no Congresso, onde tem bom trânsito, para que a Medida Provisória 984, assinada em junho do ano passado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), fosse votada pelos parlamentares. O texto alterava as regras sobre os direitos de transmissão de eventos esportivos, dando mais autonomia para os clubes negociarem com empresas interessadas.
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A articulação para que Bolsonaro editasse a MP, desde o início, foi dos clubes. Ao menos 16 assinaram um manifesto em julho em apoio ao texto, entre eles o Flamengo, principal incentivador, Palmeiras, Corinthians, Atlético-MG e Vasco. Mas com a MP em vigor era preciso que o Congresso, em 120 dias a partir de 18 de junho, a colocasse em votação para que ela se transformasse em lei.
Isso não aconteceu, o texto caducou e alguns cartolas acreditam que a CBF não articulou corretamente com parlamentares da chamada "bancada da bola" para que entrasse na pauta. Esse fato gerou, desde o fim de 2020, um desgaste de Caboclo com presidentes de alguns clubes.
Vídeo vazado de uma reunião em março, revelado pelo jornalista Venê Casagrande, mostrava uma relação instável: o presidente da CBF irritado falando que não pararia as competições por causa da pandemia, que os clubes estariam f... se isso ocorresse e sendo deselegante com o presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte.
Recentemente, a coluna De Primeira, do UOL Esporte, revelou que os clubes já articulam com o governo federal a edição de uma nova MP, nos mesmos moldes daquela de 2020. Novamente uma iniciativa das associações, que viram a CBF ausente da negociação.
Alguns cartolas avaliam que a CBF tem cautela a tratar do tema direito de transmissão porque ela criou um departamento de mídia para cuidar da exibição de alguns eventos que organiza, como campeonatos femininos e de base. Uma lei que determine que os clubes mandantes dos jogos são sozinhos detentores dos direitos, e não as duas equipes que entram em campo, como a Lei Pelé indica, pode dificultar o plano da CBF de ampliar esse departamento.
Pressão interna
Embora insatisfeitos, dirigentes de clubes não se organizaram (ainda) para questionar Caboclo ou para fazer uma oposição ao dirigente. O movimento para miná-lo, por enquanto, é interno na CBF e em sua esfera de influência.
Irritação não costuma ser o suficiente para derrubar um dirigente. No último mês, entretanto, a ebulição na CBF aumentou por conta de comportamentos considerados inapropriados do mandatário. Há ainda um envolvimento político do ex-presidente da confederação Marco Polo Del Nero. Dentro da CBF, há relatos sobre Caboclo soltar grosserias, ordens sem sentido e aparentar instabilidade emocional.
Às vezes, o presidente se apresenta em um estado descrito por várias fontes ouvidas como "alterado". Funcionários têm evitado a presença de Caboclo quando percebem que está neste estado alterado. Houve tratamento considerado agressivo e arrogante até com empregados de alto escalão na entidade.
Banido pela Fifa de quaisquer atividades relacionadas ao futebol, o ex-presidente Marco Polo Del Nero continua com influência na entidade e com várias pessoas em cargos-chave, além de fazer reuniões de lazer em sua casa com pessoas do futebol. Del Nero tinha ficado irritado com Caboclo durante um período em que este se aproximou mais do presidente da Federação Paulista, Reinaldo Carneiro Bastos, mas recentemente voltou a estreitar laços com o atual presidente da CBF. Neste processo, até fez movimentos para abafar a insatisfação com Caboclo.
Del Nero é, entretanto, conhecido por ser pragmático: abandonará o aliado se achar que sua situação não é mais viável e buscará alternativas. O movimento de oposição ao presidente da CBF tem crescido internamente também pela falta de tato político. Frágil, ele chegou a falar com o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira em busca de apoio - Teixeira está afastado da entidade desde 2012 e é desafeto de Del Nero.
Os próximos passos de Caboclo na CBF vão depender do surgimento de novos fatos e da sua capacidade de gerir a crise na entidade. A assessoria da CBF informou que não falaria sobre acusações anônimas.
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