Torcedores do Flamengo viveram martírio às vésperas da final da Libertadores em 2022 — Foto: Juliano Lima

Às vésperas do Mundial de Clubes, centenas de torcedores do Flamengo ainda convivem com os transtornos causados pela agência OutsiderTours. São rubro-negros que não conseguiram ser reembolsados pela empresa e aguardam desfecho judicial para as indenizações. Mesmo sem resolver a situação, a agência está operando no Mundial em Marrocos com pacotes que chegam a custar R$ 30 mil por pessoa.



Em outubro do ano passado, a empresa deixou na mão centenas de torcedores que que queriam assistir à final da Libertadores no Equador, mas na hora de voar, não havia avião disponível. Também fazem parte das reclamações, ainda não resolvidas, pessoas que compraram e não tiveram o traslado terrestre em Guayaquil e outros que não receberam ingressos nos setores contratados para a partida.


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A Outsider afirma ter resolvido 60% dos casos. Como justificativa, a agência disse à reportagem que clientes que conseguiram viajar estornaram seus pagamentos, o que teria provocado “prejuízo” à empresa. Veja a íntegra da nota ao fim do texto.

A reportagem do ge entrou em contato com diversos grupos de passageiros que já acionaram a Justiça, como é o caso de Vânia Lopes, de 66 anos, que estava com tudo comprado para assistir a final ao lado do filho Alex Lopes, de 29 anos. Devido aos transtornos, Vânia desistiu de embarcar e, de longe, acompanhou a dificuldade do filho para chegar em Guayaquil.

- O atendimento virou um caos, não conseguíamos mais nenhuma informação. Começaram então a recolher nossos passaportes para encaixar em outro voo. O tempo foi passando, o PROCON pela segunda vez esteve no aeroporto e disseram que iam disponibilizar um bate-volta. Foi uma dificuldade para conseguir o meu passaporte e o do meu filho de volta. Mas conseguimos e meu filho, com dois amigos, decidiram embarcar. Eu, com idade mais avançada, estava muito cansada, desisti e voltei para casa.

- Fiz o pedido de ressarcimento, conforme instruções deles e que estava acordado com o PROCON. Neste acordo, em 30 dias eles deveriam devolver o valor do serviço que não foi prestado e isso não aconteceu. Insatisfeita e revoltadíssima por ter sido impedida de realizar um sonho, não tive outra alternativa, e entrei com um processo.

A audiência de Vânia estava marcada para o fim de janeiro, porém foi cancelada com a promessa da sentença sair em breve. A situação é semelhante a de Fernando Nascentes, de 46 anos, que também entrou na justiça e agora, sem nenhuma resposta da Outsiders, aguarda a audiência marcada para março.

- Comprei os pacotes para presentear meu filho, a final foi no dia do aniversário dele de 15 anos. Já seria uma viagem cansativa, pois era "bate e volta", imagina após ficar mais de 7 horas no aeroporto tentando confirmar o embarque e com todo o stress emocional. Chegando em Guayaquil não tinha o transfer que contratei junto a outsider (aeroporto - estádio, e estádio- aeroporto). Paguei mil reais para outsider só pelo transfer e tivemos que nos virar pra voltar. Foi bem difícil conseguir transporte para o aeroporto. E no pacote que compramos era ingresso para um setor, porém entregaram de outro setor mais barato.

Enquanto alguns conseguiram embarcar, mesmo com muito transtorno, outros como Alexandre Sobral, 43 anos, não tiveram o contrato cumprido. Pouco antes do horário previsto para o embarque, o passageiro foi avisado que não havia mais vagas no avião.

- Eu contratei para o serviço de bate e volta para a final em Guayaquil. Quando iniciaram os problemas de embarque, tentei contato com eles para confirmar o meu voo e não obtive nenhuma resposta. Diante da ausência de resposta, segui tudo conforme o planejado, no dia o meu embarque me dirigi até o Galeão. Chegando lá o caos já estava instaurado. E somente lá, quase na hora do meu voo, eles informaram que não havia mais vagas.

Falta de resposta
Na ocasião, Alexandre conseguiu uma resposta da Outsider, que prometia o retorno em 30 dias, porém, mais de três meses depois, a empresa ainda não respondeu novamente. Em meio a isso, o passageiro foi mais um a acionar a justiça. A dinâmica se repetiu em diversos casos apurados pela reportagem.

Indenização aceita pela metade
Entre os lesados pela agência há ainda pessoas que tiveram problemas na Libertadores anterior à do Equador, a realizada no Uruguai, em 2021. Um dos processos acessados pela reportagem mostra um grupo de torcedores que após algumas audiências judiciais aceitou uma oferta de R$ 60 mil para encerrar o processo. O grupo, de oito pessoas, pedia R$ 120 mil de indenização por danos morais e materiais pela não prestação adequada do serviço.

Derrota em processo contra a Latam
Como explicação aos torcedores, a empresa tentou fazer com que a Latam publicasse uma nota pública assumindo a responsabilidade pela indicação da empresa portuguesa Euro Atlantic, que não foi autorizada a voar. A Outsider, no entanto, não conseguiu convencer a Justiça de que a Latam tivesse responsabilidade. O pedido, ingressado na 2ª Vara Cível do Jabaquara, em São Paulo, foi negado.

Confira a nota da Outsider:
“A empresa teve um prejuízo inesperado de mais de R$600.000,00 em função de 52 clientes que viajaram normalmente e, ainda sim, pediram o estorno de 100% do cartão de crédito, como se não tivessem realizado a viagem. Esses casos estão sendo devidamente ajuizados e prejudicaram o fluxo de pagamento de reembolsos que realmente precisam ser feitos.



A Outsider esclarece, ainda, que mesmo com o problema mencionado acima, mais de 60% dos casos de clientes que tiveram algum prejuízo já foram solucionados e seguimos fazendo acordos para solucionar com a maior brevidade possível. Acreditamos estar na direção certa, uma vez que conseguimos alcançar a nossa meta de 300 pacotes vendidos para o Mundial de Clubes no Marrocos.

Em relação à LATAM, o caso está sendo tratado pelo departamento jurídico da Outsider que segue reunindo documentos que serão anexados ao processo.”

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