O Flamengo agiu rapidamente diante das dificuldades para ter Jorge Jesus de volta e anunciou o Jorge Sampaoli como novo treinador, em substituição a Vítor Pereira, demitido na terça-feira. Mas, para voltar ao caminho das vitórias, o rubro-negro precisará "fazer as pazes" com características de jogo que são partes integrais da identidade do argentino e que foram testados por uma série de treinadores que passaram pelo clube nos últimos anos: o jogo posicional e as disposições táticas diferenciadas.
No Flamengo, nomes como Domènec Torrent, Rogério Ceni e Paulo Sousa foram alguns dos que tentaram implementar estilos que mergulhavam em partes dessa ideia. Dos três, foi Ceni quem teve mais sucesso, com três troféus conquistados (Brasileirão, Supercopa do Brasil e Carioca) e 44 jogos à frente do clube. Dome durou 23 partidas e Sousa, 32.
O trio engatou aproveitamentos de 59% a 66%, números que acompanham a média dos treinadores que passaram pelo rubro-negro nos últimos anos (com exceção de Jorge Jesus). Mas todos guardam uma memória em comum em seus trabalhos: a pressão sofrida nos momentos de mau desempenho, que fica ainda mais intensa quando se traz uma abordagem disruptiva em relação a modelos de jogo já estabelecidos, uma situação que ajudou a derrubar Vítor Pereira. O grande desafio na vinda de Sampaoli à Gávea é justamente esse: o próprio estilo do argentino inclui ser disruptivo.
Grande fã da formação 3-4-3 e suas variações ofensivas e defensivas, o treinador encontrará um cenário tático levemente ajustado para suas ideias: o elenco vinha se acostumando a atuar com três zagueiros sob o comando de VP. Mas o setor ofensivo, em especial na ausência de Arrascaeta, lesionado, ainda não havia chegado a uma fórmula ideal. O comandante português tentou atuar com dois pontas abertos, ensaiou opções de construção por dentro, mas o ataque seguiu sem identidade até sua saída. Incontestável por ali, apenas o centroavante Pedro.
Para atuar com a amplitude e com a capacidade de enfrentar as defesas que gosta de ter pelos lados do campo, Sampaoli precisaria, de fato, ser disruptivo. Tanto dentro do elenco, quanto no mercado, se for assim necessário. Com Gabigol, um atacante que não tem características de um ponta padrão, pedindo para jogar mais à frente novamente, o argentino teria como opções Everton Cebolinha — que tem a função como ofício —, um Bruno Henrique retornando de uma grave lesão, Marinho — com quem já trabalhou no Santos — e os jovens Matheus França e Matheus Gonçalves. Haveria ainda a hipótese de testar Arrascaeta e Gerson no setor, o que tiraria boas opções de construção do meio.
Everton Cebolinha faz a função de ponta de ofício — Foto: Alexandre Cassiano
Mais do que encontrar as melhores peças, o desafio do argentino passa por sustentar as pressões internas e externas. Internamente, Sampaoli não tem medo do confronto, seja com dirigentes ou com jogadores. Um estilo que deu certo em alguns de seus trabalhos (como no Santos) e errado em outros (na seleção da Argentina, por exemplo). No contexto rubro-negro, a aceitação ou não dessa personalidade influenciaria diretamente no contexto externo, na relação com a torcida e na paciência que ganharia dela.
Ainda com Jorge Jesus pairando na memória, a torcida do Flamengo preza automaticamente por um futebol intenso, de proposição de jogo. Essas características até estão presentes no estilo do argentino, mas numa forma um pouco diferente, que se baseia menos numa inspiração plástica e mais numa eficiência tática e técnica. Diante da vinda do treinador, cabe a mesma pergunta que se fez para todos os que passaram pelo cargo desde 2019: até que ponto construção, desempenho e um jogo bonito podem se alinhar e se desalinhar em meio a uma intensa pressão por títulos num clube com receita de R$ 1 bilhão?
6313 visitas - Fonte: O Globo
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Tem que dar um chicote pra ele, pra ver se assim esse time milionário cura essa preguiça