Aos 22 anos, Matheus Cunha é titular absoluto no Flamengo de Jorge Sampaoli. A final da Copa do Brasil contra o São Paulo, clube que tem grande participação na formação do jogador, será a sua primeira decisão como profissional. A trajetória contou alguns capítulos curiosos: o tio Donardo como inspiração e uma mãe coruja que movimentou a cidade de Tupi Paulista com uma rifa para ajudar o filho.
+Sampaoli testa Flamengo com Bruno Henrique, Gabigol e Pedro para enfrentar o São Paulo +"Iluminado", BH vê Copa do Brasil como porta para o Flamengo conquistar tudo em 2024
Matheus Cunha jogando no interior de São Paulo — Foto: Arquivo pessoal
Apaixonado por futebol desde pequeno, Matheus viu no tio-avô a grande inspiração para jogar bola. Nas brincadeiras quando criança já era possível perceber a preferência do menino de sete anos em atuar no gol. Tio Donardo, como é chamado carinhosamente por todos da família, era quem levava Matheus para os treinos ainda no interior de São Paulo.
- Nossa família sempre gostou muito de futebol. Aqui na nossa região tem muito campeonato de várzea mesmo. Os tios sempre participaram dos campeonatos, e o Matheus estava sempre envolvido. Sempre levavam ele para participar e, no intervalo, ele queria estar em campo. A gente tem um tio que se chama Donardo, é irmão da minha mãe, o mais velho, e ele era goleiro. Então, eu acho que esse desejo de ser goleiro veio por conta dele. Foi uma das maiores influências para Matheus. Sempre que a gente brincava, ele ia direto para posição de goleiro. Quando o Matheus tinha uns sete anos e fazia base aqui na cidade, esse tio colocava ele na garupa de uma bicicletinha e levava para os treinamentos - contou Fernando, irmão da mãe de Matheus, ao ge .
Fernando ainda lembra das dificuldades do início da carreira do sobrinho Matheus. Os primeiros passos foram nas escolinhas de Tupi Paulista, cidade com pouco mais de 15 mil habitantes. A aprovação na base do São Paulo veio só aos 13 anos, após uma peneira que aconteceu em Flora Rica, uma cidade vizinha. Só Matheus e mais dois passaram.
Matheus Cunha, goleiro do Flamengo, na cidade de Tupi Paulista — Foto: Arquivo pessoal
Flávia, a mãe coruja, entrou em ação. Para custear os gastos depois de Matheus passar no teste no São Paulo, a mãe começou a vender uma rifa para os moradores da cidade. Os valores serviam para passagem e alimentação no dia a dia dos treinos. Foi assim também que conseguiu presentear o filho com a primeira chuteira.
Flamengo ou São Paulo: quem chega melhor? Veja opiniões dos comentaristas
- A gente é muito humilde e a população daqui nos ajudou muito. Eu fui em uma loja e comprei um liquidificador e uma batedeira para fazer uma rifa. De três em três meses, eu tinha que fazer um mecanismo para angariar dinheiro para que ele pudesse continuar participando das avaliações no São Paulo. A primeira chuteira de marca dele foi assim também, através de uma vaquinha que eu fiz - contou a mãe.
+Bastidores: Sampaoli chega à primeira final cada vez mais distante do Flamengo +Jogadores do Flamengo se reúnem por uma hora sem a presença de Sampaoli
O esforço valeu a pena e o jeito quieto, frio e corajoso fez Cunha ter paciência para conquistar o espaço no Flamengo . Com as oscilações de Santos, o jovem de 22 anos, que começou o ano como reserva, tornou-se titular absoluto e não deu brecha nem mesmo para o argentino Agustín Rossi, ex-Boca Juniors.
Cunha se tornou a peça-chave de Sampaoli. O goleiro chamou atenção do treinador pela saída de bola com os pés.
Botafogo x Flamengo: Matheus Cunha — Foto: André Durão
No Flamengo desde 2021, mais de 1000 quilômetros separam Matheus da família, que assistirá do interior de São Paulo à primeira final do goleiro como profissional. Os familiares, porém, já viram o jovem ser campeão. Em 2022, Matheus era opção no banco nas conquistas da Libertadores e da Copa do Brasil.
- Ele participou ano passado, mas esse ano é muito mais especial porque ele vai estar em campo com os holofotes. O coração está apertado porque a posição de goleiro é difícil. Pode fazer 10 defesas difíceis, mas se falhar em uma é o pior. É uma mistura de ansiedade e medo, mas muito feliz por tudo o que ele está vivendo - comentou o tio Fernando.
Quem também está ansiosa é a irmã mais nova, Maria Eduarda, de 14 anos. A diferença de idade faz a menina ter no irmão a identificação de pai. A relação é construída no contato diário e nas visitas ao Rio, que Matheus faz questão de levar a família para passeios gastronômicos pela Zona Oeste, local onde reside.
Matheus Cunha e a família em restaurante no Rio de Janeiro — Foto: Arquivo pessoal
Aliás, cozinhar é um dos hobbys do goleiro, que liga para a mãe para pedir ajuda com as receitas para se aventurar no fogão.
- Na escola, todo mundo me pergunta. Aqui na rua, todo mundo me para. Eu lido bem porque eu cresci com isso. O Matheus foi embora muito cedo, então eu já acostumei. Mas agora é diferente, no Flamengo está bem mais forte. Eu morro de saudade, o Matheus é um pai para mim - revelou a caçula.
Com a família de Matheus Cunha na torcida, o Flamengo enfrenta o São Paulo no domingo, às 16h (de Brasília), no Maracanã, pelo jogo de ida da final da Copa do Brasil. O segundo e decisivo confronto acontece no dia 24, no Morumbi.
Veja outras respostas
Chegada ao Flamengo
- Matheus teve propostas de outros grandes clubes do Brasil, mas quando chegou a proposta do Flamengo foi diferente. Até porque o Flamengo tem muito êxito na conquista de títulos recentemente. Foi um dos motivos para a decisão ser o Flamengo . Ele foi conhecer o clube e ficou muito entusiasmado com a oportunidade. É o maior clube do Brasil, que tem a maior torcida do país. Foi essa a decisão dele de assinar com o Flamengo - contou o tio Fernando.
Entrevista após falha na Seleção Olímpica
- Eu até conversei com a minha irmã. Achei muito corajoso da parte dele. Se você pegar a entrevista, ele assume a falha. Você vê muito atleta mais experiente jogando a culpa nos outros. E ele não jogou a culpa em ninguém. Ele assumiu a responsabilidade. A gente fica chateado quando a torcida pega no pé, mas o Matheus tem muito essa responsabilidade. Ele é muito homem para assumir os erros que ele já teve. Ele é um goleiro de 22 anos tem muito tempo de maturação. Às vezes a gente fica espantado com alguns comentários, mas acho que as pessoas poderiam olhar com bons olhos quando se tem a hombridade de assumir os próprios erros - comentou o tio Fernando.
Críticas e ameaças em rede social
- A gente tem até uma certa preocupação. O Matheus é um ser humano muito reservado, daqueles que se tranca no quarto e precisa de um momento dele. Ele não é a pessoa que divide a angústia. Ele é muito reservado mesmo. Essas questões de rede social a gente sofre um pouco. Tiveram ameaças de torcedores do Flamengo para ele e para a família após a eliminação contra o Olímpia - revelou o tio.
+ Leia mais notícias do Flamengo
?? Ouça o podcast ge Flamengo ??
Assista: tudo sobre o Flamengo no ge, na Globo e no sportv
Comentários do Facebook -