Há momentos no futebol brasileiro em que o treinador é a imagem do isolamento. A arquibancada o ofende sem cerimônia, dirigentes não aparecem para defendê-lo, e a imprensa especula sobre seu cargo. Assim foram os dias finais de Tite no Flamengo. Em ocasiões assim, dois caminhos se oferecem a quem tenta analisar futebol: unir-se ao linchamento ao técnico demitido ou refletir sobre um contexto que inclua, mas não se limite à figura do técnico.
A segunda opção soa mais justa, mas contém o risco da acusação de condescendência, sinal de tempos em que a ponderação anda fora de moda. O contexto do Flamengo, por sinal, é ainda mais complexo. Impossível menosprezar o peso da eliminação da Libertadores e até a sequência de atuações do time, mas também soa ingênuo menosprezar os seis dias que nos separam das eleições municipais e os dois meses até as eleições no clube.
A partir de agora, se Filipe Luís conduzir o time a partir de seu conhecimento de futebol e sua boa relação com parte importante do elenco, a diretoria dirá que acertou. Se ele perder, sempre haverá Tite para culpar. É melhor fazer logo a ressalva: esta não é uma defesa de Tite e de sua comissão técnica.
É justo argumentar que, ao longo deste 2024, o elenco do Flamengo produziu muito menos jogos de grande nível do que o esperado. Também é natural o debate sobre a gestão deste elenco, os jogadores preservados na fase de grupos da Libertadores em meio à final do Carioca, o modo como a Copa do Brasil canibalizou o Brasileirão, a sensação de pouco espaço para o desenvolvimento de jovens... Todos esses são motivos para debater e criticar o treinador e sua equipe. Mas o ponto aqui é notar como a figura do técnico centraliza a indignação da arquibancada.
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