O domínio com a bola nos pés segue o mesmo, a diferença está no que fazer com ela. Com seis gols marcados e nenhum sofrido em três partidas, o Flamengo venceu e convenceu mais uma vez com Dorival Júnior.
A paciência na busca por espaços com Maurício Barbieri se transformou em agressividade próximo da área rival com o sucessor. O caminho para ofensividade ficou mais curto com rapidez na tomada de decisões e foi beneficiado pela eficiência nas jogadas pelo alto. Desta maneira, até o incômodo jejum dos atacantes - desde 12/08, com Dourado - chegou ao fim através de Fernando Uribe.
Descaracterizar o desenho tático deixado por Barbieri seria injusto, e o próprio treinador tem feito questão de evitar em entrevistas. Já com o antecessor, o Flamengo migrou para um 4-2-3-1, com Willian Arão aumentando a presença no campo de ataque. A equipe atual, por sua vez, não espera brechas na defesa rival, as cria com aproximação, triangulação e agressividade.
Flamengo x Fluminense
Posse de bola: 51% x 49%
Finalizações: 17 x 13
Chances reais: 6 x 2
Bolas levantadas: 13 x 8
Foi assim que o Rubro-Negro acuou um Fluminense que até buscou saídas em velocidade nos 15 minutos iniciais, mas depois se viu na maioria das vezes sem sequer ter a bola em seus pés. Intensidade que Dorival Júnior faz questão de frisar: é fruto das semanas livres para treinamentos:
- Tenho tido tempo que o Mauricio não teve. Era necessário esse trabalho de finalização, de infiltração, e o Mauricio não teve oportunidade entre os jogos. Eu sei o quanto isso influencia. Foi importante também corrigirmos alguns posicionamentos que vimos em takes, ter mais aproximação.
- Isso passa muito pelos meias, que precisam estar preparados e não de costas para o gol. Trabalhamos aproximação, triangulação, que tem nos dado uma tranquilidade maior e uma proximidade no campo ofensivo.
Assim como já tinha acontecido diante do Corinthians, o jogo aéreo abriu o caminho para a vitória. E aí é possível identificar outra mudança de rumos com Dorival: a diferença de atitude de Vitinho salta aos olhos, assim como sua qualidade nas bolas paradas. Já tinha cobrado os escanteios para os gols de Paquetá em São Paulo e cruzou para Uribe e Léo Duarte no Maracanã.
A vantagem conquistada pelo alto golpeou um Fluminense que já não conseguia conter o adversário com a bola no chão. Ao término do primeiro tempo, foram 60% de posse de bola para o Flamengo, além de 11 finalizações contra cinco. Superioridade estatística que o Rubro-Negro, enfim, conseguiu levar para o placar.
O Flamengo de Dorival dá a impressão de que pensa menos e age mais. A tranquilidade para girar a bola em busca de espaços - que não vinha funcionando com Barbieri, vide atuações como diante de Corinthians e Ceará, no Maracanã - deu lugar a uma série de tomadas de decisões verticais, como dos dois lances relatados a seguir.
Aos 19, Uribe abriu jogada para Vitinho pela esquerda. Ao se ver cercado por adversários, o atacante recuou para Paquetá e rapidamente a bola chegou a Pará, que invadiu a área pela direita e a deixou sair pela linha de fundo. Essas inversões rápidas foram treinadas à exaustão por Dorival na primeira semana de trabalho no Ninho do Urubu, para encontrar espaços na defesa rival.
Aos 24, outro exemplo: Paquetá cobrou falta na barreira. Na volta, o passe imediatamente encontrou Pará na direita para cruzamento cortado por Julio Cesar. Na sequência, a bola chegou a Vitinho na esquerda, para chute cruzado sem direção. Mesmo que não levasse perigo ao gol rival, o Flamengo tratava de rapidamente buscar uma definição para as jogadas.
Neste ritmo, o Flamengo voltou do intervalo e precisou de quatro minutos para fazer o terceiro, com Uribe, após chute cruzado de Paquetá. Vale ressaltar que fazia tempo que um centroavante não participava tanto do jogo. Com o 3 a 0, o triunfo estava selado, e o Rubro-Negro permitiu-se tirar o pé.
Deu campo e bola para o Fluminense, mas praticamente não sofreu riscos. Os 51% x 49% em posse ao apito final mostram que o Tricolor até teve tempo para trabalhar. A única defesa difícil de César, no entanto, aconteceu em cabeçada de Ayrton Lucas. Por outro lado, Dorival testava alternativas e deu oportunidade para Berrío, que entrou bem, e Rômulo.
Mesmo com semelhanças ao time de Maurício Barbieri, o Flamengo consegue ser outro sob o comando de Dorival. E isso não se dá somente pelas vitórias. O Flamengo que cercava agora espeta o adversário, incomoda mais, castiga mais, e tem sido recompensado. Nem que seja pelo alto, como em quatro dos seis gols marcados.
Domingo, a tendência é de um cenário similar no Durival de Britto, em Curitiba. Mesmo fora de casa, o Flamengo terá a responsabilidade de pressionar o Paraná, a partir das 19h (de Brasília), pela 30ª rodada do Brasileirão. Mais um desafio para um time que tem lidado praticamente com o erro zero para seguir brigando pelo título.
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