Torcedores prestam homenagem às vítimas do incêndio que atingiu o alojamento no CT do Flamengo
Imagem: Folhapress
O incêndio no Ninho do Urubu completa um ano e meio hoje (8) com os sobreviventes sob a expectativa de retorno às atividades no centro de treinamento do Flamengo, suspensas por causa da pandemia de coronavírus, e novos acordos com as famílias das vítimas fatais concretizados.
Paralelamente a isso, corre uma ação coletiva ajuizada pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro em prol dos familiares dos dez mortos. Aguarda-se também a finalização do inquérito sobre o caso.
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Sobreviventes aguardam retorno das atividades
O goleiro Francisco Dyogo, o zagueiro Jhonata Ventura e o atacante Cauan Emanuel vivem a expectativa de retornar aos treinos nos próximos dias, juntamente ao elenco sub-16 do Flamengo. As atividades presenciais estão suspensas desde meados de março, medida preventiva por causa do surto de contágio da Covid-19.
Francisco Dyogo e Cauan voltaram a jogar ainda no ano passado. O goleiro está em Fortaleza (CE) e, há cerca de um mês, começou a fazer atividades com um treinador de goleiros particular para conseguir manter o ritmo.
"O Dyogo está muito ansioso, fala que quer voltar o mais rapidamente para o Flamengo. Ele estava treinando muito bem e, inclusive, algumas vezes com os profissionais. Está muito feliz com a maneira que tem sido valorizado", disse Francisco Alves, pai do menino.
Jhonata, que teve cerca de 35% do corpo queimado e foi o último dos três a receber alta hospitalar, voltou a realizar trabalhos no gramado no fim de janeiro. Agora, há o aguardo para que ele possa, em breve, treinar com o restante dos companheiros.
Neste período de paralisação, ele fez trabalhos no apartamento em que mora, no Rio de Janeiro, e em um campinho próximo à residência. Clinicamente recuperado, o zagueiro precisa ainda tomar cuidados por causa da sensibilidade da pele em algumas regiões do corpo, o que explica a utilização de uma malha no braço esquerdo, por exemplo.
É possível que o sub-16 do Rubro-Negro retome os trabalhos presenciais ainda este mês, simultaneamente ao sub-17. Com algumas incertezas no calendário de competições das categorias de base, a diretoria do clube estuda a melhor solução para a utilização dos elencos.
Novos acordos fechados
Nas últimas semanas, o Flamengo fechou acordo com os familiares de Bernardo Pisetta, Jorge Eduardo e Samuel Thomas. Desta forma, o clube acertou, até o momento, sete resoluções em 11 negociações.
Segundo o UOL Esporte apurou, um ponto em comum entre essas famílias era o cansaço em relação ao assunto, pela carga emocional envolvida, e a vontade de colocar um ponto final em tal pauta.
Além dos três casos citados, o Fla, anteriormente, já havia chegado a um entendimento com as famílias de Athila Paixão, Gedson Santos, Vitor Isaias, e com o pai de Rykelmo.
E as outras famílias?
O Rubro-Negro ainda negocia indenizações com as famílias de Arthur Vinicius, Christian Esmério e Pablo Henrique. As defesas são feitas de forma independente e, inicialmente, as assessorias dos familiares de Arthur e de Pablo Henrique aguardam a finalização do inquérito para avançar no assunto.
"Recebemos, pela primeira vez, uma proposta efetiva do Flamengo, mas em um valor considerado baixo. Não foi aceita. Mas houve um contato, que foi feito na última semana. Segundo o Flamengo, aquela era a única proposta. Eles disseram que não iam alterar. Então, não [há avanço nas negociações]. Estamos esperando o inquérito", disse Mariju Maciel, que defende a família de Pablo Henrique.
No caso da família de Christian Esmério, não houve contato recente, mas há a expectativa de que uma conversa entre as partes possa ser realizada em breve.
"Estamos aguardando. Houve contato com outras famílias, mas com a do Christian ainda não. Estamos esperando para, quem sabe, se chegar a um denominador comum. Um ano e meio já... É uma ferida que nunca fecha, mas esse assunto é uma dor a mais", indicou o advogado Arley Carvalho.
A mãe de Rykelmo, há cerca de um ano, acionou a Justiça pedindo o indiciamento de Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e de Rogério Caboclo, mandatário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Ainda não houve definição.
Ação coletiva
Uma ação coletiva ajuizada pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro contra o Flamengo está em andamento. Conforme decisão favorável obtida pela Defensoria em abril, o Rubro-Negro segue pagando indenização de R$ 10 mil às famílias com as quais ainda não fizeram acordo.
No momento, o processo está aguardando a normalização do judiciário, que está paralisado devido à pandemia, para que as negociações sejam retomadas. Há a expectativa de que haja uma audiência presencial com representantes das duas partes.
Inquérito
O inquérito ainda não foi exposto oficialmente, mas, em comunicado publicado em 20 de junho, o Ministério Público do Rio de Janeiro salientou "que não há, por ora, como afirmar a ocorrência de dolo eventual no resultado morte - não sendo viável deduzir ou intuir que os indiciados tivessem a potencial certeza da possibilidade do fato ocorrido no alojamento". Porém, o órgão indicou que "não restam dúvidas, diante das provas produzidas em sede policial, que uma série de condutas imprudentes e negligentes, por ação e omissão, em tese praticadas pelos indiciados, de fato concorreram de forma eficaz para a ocorrência do incêndio, bem como das mortes e ferimentos decorrentes".
Ainda de acordo com a nota do MPRJ, "os indiciados deverão, assim, responder pelo crime de incêndio culposo, com o resultado de dez homicídios culposos e três crimes de lesões corporais culposas, sendo um deles o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello, que será notificado juntamente com os demais indiciados acerca da recusa de ANPP (acordos de não persecução penal)".
Na ocasião da publicação do documento, o Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor (GAEDEST/MPRJ) ressaltou que o Flamengo "vem permanentemente procurando mitigar pagamentos de indenizações às famílias das vítimas do incêndio, aumentando o desespero das mesmas, numa nítida tentativa de não sofrer qualquer prejuízo econômico decorrente do grave fato a que o próprio clube deu causa".
CPI
O incêndio no CT do Flamengo também é alvo de apuração de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), que debate outras tragédias deste porte no Rio de Janeiro. O relatório final ainda não foi divulgado, até porque o documento precisa ainda passar por algumas comissões.
Porém, como o UOL Esporte mostrou em 14 de maio, após ouvir diversos dirigentes das duas últimas gestões do Rubro-Negro, a tendência é que o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello seja indiciado como responsável, assim como o atual mandatário, Rodolfo Landim.
Os deputados estaduais entendem que as investigações da Polícia Civil, que praticamente responsabilizaram apenas Bandeira, eram frágeis, mas servem como um fio condutor para o indiciamento, já que a polícia entendeu que o alto comando deveria responder.
Polêmica e investigação interna
O incêndio no Ninho do Urubu esteve em meio a uma polêmica nos bastidores do Flamengo e troca de farpas entre dirigentes. Em abril, durante uma entrevista ao "Canal do Nicola", o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello afirmou que, caso ainda estivesse à frente do clube, a tragédia não teria acontecido.
Bandeira explicou que a fala referia-se "ao fato de que os jogadores da base do Flamengo já estavam ocupando o Centro de Treinamento novo antes de sair da presidência".
As declarações, porém, renderam nota oficial por parte do Rubro-Negro e respostas de Marcos Braz, vice-presidente de futebol, e Rodrigo Dunshee, vice-presidente geral e jurídico. À época, Dunshee, inclusive, foi criticado por falar sobre "oportunidades perdidas" pelas famílias das vítimas do incêndio no Ninho do Urubu que ainda não haviam chegado a um acordo.
Além disso, o "Vanguarda Rubro-Negra", capitaneado por Marcelo Vargas, candidato da Chapa Branca no último pleito, formalizou um pedido que pode gerar a expulsão de Bandeira do quadro social por causa de tais falas. Segundo o grupo, o ex-mandatário teria infringido normas estatutárias.
Uma comissão de inquérito foi formada e testemunhas foram ouvidas. Bandeira, por sua vez, já apresentou a defesa. Agora, avalia-se a necessidade de ouvir outras pessoas e a realização de uma audiência.
Acho q todos têm culpa: tanto as diretorias anterior e posterior ao incêndio...o Bandeira de Mello não pode ser responsável por tudo.Esse é meu pro de vista.