Muito se falou em regulamentar as casas de apostas no Brasil. Nosso futebol é grande demais, importante demais, para deixar empresas novas, em um setor cheio de questões, fazerem o que bem entenderem por aqui.
Mas pouca gente pensou nos jogadores. Na vulnerabilidade daqueles de quem os esquemas dependem. Como diz a sabedoria popular, não há corrupção sem corrompido.
Ao contrário do que o senso comum talvez indique, diante de salários estratosféricos no topo da pirâmide, a vasta maioria dos atletas não é milionária. Especialmente, quando descemos às séries B, C, D.
Ou seja, 50 mil reais por um cartão amarelo pode parecer bastante interessante. Uma grana bem bacana e um ato aparentemente inofensivo.
Há, ainda, aqueles que devem. Que devem a quem não se deve dever. Um alvo com dívida é um alvo ainda mais vulnerável. E ninguém sabe disso melhor do que os apostadores.
As mensagens do caso Eduardo Bauermann mostram que, ao não cumprir o combinado com a quadrilha, ele passou a "dever" 800 mil reais (parcelados em suaves parcelas de 50 mil mensais).
Para tentar apaziguar os ânimos, o zagueiro enviou o print de uma proposta que recebera do Léon (MEX), de 2,5 milhões de dólares, avisando que esperava receber uma de 4 milhões até o final do ano. Teria afirmado também acreditar que conseguiria envolver mais dois jogadores do Santos no esquema.
Um dos bandidos diz a um colega, em mensagens obtidas pela polícia:
"Você viu que a parada lá [do Bauermann] deu trave. O truta não tem como pagar nós, o truta quer pagar fazendo os trampos, mano. Infelizmente, vai fazer o que? Vai matar o cara para perder dinheiro? EU mesmo não vou matar ninguém para perder meu dinheiro, mano. Entendeu, mano? O cara está disposto a dar o bagulho do passe [direitos econômicos] dele para nós, cabe a nós correr e tentar vender o passe dele lá também, mano."
Olha o tamanho do imbróglio por traz da promessa de um cartão amarelo.
Além do risco aos atletas, um amarelo aqui, um vermelho ali, um pênalti acolá, tudo traz consequências aos clubes, às torcidas, a patrocinadores, a quem transmite e até às próprias casas de apostas.
Como os envolvidos estão percebendo rapidamente, não se trata de um crime sem vítimas. E como todo o universo do futebol está se dando conta subitamente, não é um problema de fácil solução.
Afinal não falta quem corrompa e muito menos quem esteja vulnerável à corrupção.
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409 visitas - Fonte: UOL
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