O futebol brasileiro viu a partir da Copa do Mundo de 2014 uma série de novos estádios no padrão Fifa, com assentos confortáveis, restaurantes, lojas e banheiros luxuosos, além de camarotes luxuosos, aspectos que também encareceram o preço médio dos ingressos e afastou o torcedor de menor poder aquisitivo das arquibancadas.
Autor do livro Forasteiros, o jornalista Rodrigo Barneschi fala em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, sobre a sua experiência no novo Maracanã e aponta que o luxo muitas vezes desnecessário nos estádios modernos causam a elitização do estádio de futebol, já que todo esse conforto tem um custo e a conta fica para o torcedor.
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"A gente chega nesse ponto dos novos estádios, e eu vou usar um termo aqui do Luis Antônio Simas, que é o autor do prefácio do Forasteiros, o Simas sempre fala na perversidade do bem, que é o conceito de você entregar uma série de coisas que parecem ser muito boas, empacotar isso de uma forma muito legal e isso tem como consequência você afastar muita gente daquele ambiente", cita Barneschi.
"No caso de um estádio, é quando você começa a colocar muita amenidade, cadeirinhas acolchoadas, restaurantes super badalados no estádio, televisão no banheiro do estádio, mármore na pia do banheiro, o ponto é o seguinte, isso serve de nada para o torcedor de arquibancada, mas ele serve para criar uma aura, uma imagem de um estádio moderno, um estádio mais adequado aos padrões europeus, ao padrão Fifa. O problema disso é que isso tem um custo. Se você põe mármore no banheiro, se você põe uma TV de Led, TV super moderna em todo o anel inferior do Maracanã ou de outros estádios, isso tem um custo", completa.
O jornalista conta um dos temas de seu livro, no qual relata a experiência do primeiro jogo no Maracanã depois da reforma para a Copa do Mundo e da presença de um funcionário para dar as boas-vindas, considerando mais um fator que dificulta a ida do público de menor poder aquisitivo a um jogo.
"Eu cheguei nesse primeiro jogo, subindo a rampa para entrar na arquibancada, vem um sujeito muito sorridente e me cumprimenta assim: ‘boa tarde, seja bem-vindo ao Maracanã’. Isso parece ser legal. Pô, tem alguém te dando boa tarde. Agora, isso custa dinheiro, esse cara está lá sendo pago para isso e essa conta é paga pelo torcedor. E o que eu digo é que eu prefiro não ter um cara me dando boa tarde, bom dia, boa noite, e permitir que pessoas de menor poder aquisitivo continuem indo ao estádio", afirma Barneschi.
"Quando você coloca esses luxos, esses confortos desnecessários em um estádio, você encarece o estádio e a conta sobra para o torcedor. E aí vem a justificativa de ‘olha, é um estádio mais moderno, mais confortável, o ingresso é mais caro’. O ponto é: o torcedor de arquibancada nem sempre quer esses luxos, ele não precisa disso, ele precisa de um conforto básico, de questões essenciais ali para ele, mas ele não precisa de coisas que encareçam a ida dele ao estádio. É isso que o Simas chama de perversidade do bem, conceito que ele cunhou e que eu acho muito válido para explicar porque os novos estádios são tão caros", conclui.
O Dividida vai ao ar às quintas-feiras, às 14h, sempre com transmissão em vídeo pela home do UOL e no canal do UOL Esporte no Youtube. Você também pode ouvir o Dividida no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.
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Ja falei, jg sem torcida manda em estadio pequeno.