Caio Blois
"Venham, sentem aqui. Que lugar do Eurico, o quê. Ele que liga para isso, não sou eu".
Na mesa da diretoria no auditório da Ferj, Rubens Lopes recebe os jornalistas com um sorriso e brincadeira sobre a cadeira do polêmico ex-presidente do Vasco Eurico Miranda. Na última sexta-feira, Rubinho, como é conhecido, acabara de vencer uma eleição contra outra chapa de situação. Estava à vontade no posto que ocupa desde 2007.
Os 11 anos à frente da entidade tornaram o dirigente - que não gosta de ser chamado pelo termo "cartola" - uma figura que divide opiniões. Para alguns, seguidor de seu polêmico antecessor, Eduardo Viana, o Caixa D'Água, morto em 2006; para outros, um dirigente mais moderno, capaz de superar rusgas com os quatro grandes do Rio e de ver a candidatura de Márcio Duba, filho do presidente do Madureira, Elias Duba, como "um possível desenho futuro".
- Qualquer um poderia ser candidato. O Marcio (Duba) não é adversário, é simplesmente uma pessoa jovem. Quem sabe um desenho futuro. Não é um desenho que fiz. Não sou dono da Federação. Ele teve 18 apoios, então tem ao menos 18 pessoas que acreditam que ele tem algo a contribuir. Você (apontando para um jornalista) poderia ser candidato, tem muito a contribuir, boas ideias - disse Rubinho.
Foto: Caio Blois
Aos 71 anos, o manda-chuva do futebol fluminense até surpreende a maioria pela simpatia no trato. Tomado por uma certa dose de nostalgia ao falar do Maracanã, admite que nem sempre a relação com o Consórcio que administra o "antigo Maior do Mundo" é simples.
- Se formos falar em todo o meu mandato, não vai dar tempo de editar a matéria, são muitas coisas (risos). Não dá para criar expectativas. A relação com o Consórcio é um desafio. Sabemos que não basta falar só com o responsável pela gestão do estádio: ele, como você, também recebe ordem dos seus superiores. Nós já estabelecemos um diálogo. Não pode ser Maraca Music. Evidentemente eles estão focados no futebol, então acho que estamos num caminho que pode dar certo - tergiversou.
O primeiro desafio de Rubinho em seu novo mandato é o mesmo dos últimos anos: aumentar o público nos estádios no Campeonato Carioca. O dirigente vê diversos motivos para o fato, como a falta de "grandes artistas" em campo e a violência na capital.
- Nosso público é de poltrona, televisão. Tem 48 milhões de pessoas assistindo ao Campeonato Carioca, mas os estádios não enchem. É preciso que as pessoas que caibam nos estádios compareçam. Mas toda vez que falamos isso, a única coisa que pensam é na fórmula do campeonato. Você não consegue imaginar as variáveis que interferem no Campeonato: os horários, a violência que permeia o Rio de Janeiro hoje, os estádios, a qualidade dos artistas que fazem o espetáculo... Não adianta fazer um ótimo evento sem artistas importantes - opinou.
A conversa logo chegou na polêmica mais recente da Ferj: a "gaiola" para as torcidas organizadas. Notadamente contrário à instalação de grades no Maracanã, Rubens Lopes elogiou o plano de ações, a implementação da biometria e a setorização do estádio.
- O Maracanã historicamente teve setores: geral, camarotes, cadeiras especiais, arquibancadas brancas que eram um setor misto, cadeiras, tribuna. Por que não um setor para as organizadas? Eu não sou contra elas. Fazem parte do espetáculo, do folclore. Eu defendo as organizadas. Se eles não quiserem ficar nesse setor, ele pode ir para qualquer outro normalmente. Quem comete atrocidades, vandalismo, violência, eu não posso chamar de torcedor. É um sociopata, alguém que tem algum problema e que torce para algum clube - explicou.
Foto: Divulgação
E mesmo que esteja de acordo com os pontos, o presidente da Ferj criticou algumas determinações do Gepe, que considera contrárias à cultura das torcidas nos estádios pelo Brasil.
- Não se pode imaginar que todos os membros de organizada são ferozes. Então vamos eletrificar as grades e colocar um fosso com jacarés para poder aterrorizá-los. Não posso imaginar que as pessoas são assim para colocar dentro de uma gaiola. Se fosse assim, melhor não deixar entrar. Não sei porque não pode levar bumbo, tarol, pistão, bandeira. Não consigo entender o porquê dessa proibição. É folclórico. Sempre cantamos, batucamos, torcemos. É bom para o espetáculo.
Rubens Lopes só fugiu de um assunto: uma possível candidatura à presidência da CBF.
- O futuro a Deus pertence - repetiu, duas vezes, para completar com o porquê de não aceitar a vice-presidência da entidade máxima do futebol brasileiro:
- Não é que não me senti preparado, não quis ser. Não era o momento. Não é que eu não possa dar alguma contribuição à CBF, se me pedirem, mas não quis. Eu espero que o Rogério (Caboclo) trabalhe de maneira que o futebol brasileiro tenha representatividade no mundo. Que de verdade se possa desenvolver mecanismo para o aparecimento de novos talentos, que se fortaleçam os clubes, e que o Brasil seja respeitado.
Foto: Lucas Figueiredo
Ao falar sobre a decisão da Fifa de banir permanentemente o ex-presidente da CBF Marco Polo Del Nero, o dirigente se manteve neutro, no aguardo do desenrolar dos processos.
- Só falo sobre o banimento do Marco Polo depois que transitar em julgado. Por enquanto ainda existe uma série de recursos que cabe, e a partir do momento que todos os recursos forem analisados, aí eu falo sobre isso. Eu não parto do princípio que todo mundo é culpado até que se prove o contrário, eu parto do princípio que todo mundo é inocente até que se prove o contrário. Como ele ainda precisa ser julgado por cortes superiores, eu prefiro não opinar sobre isso.
Por fim, questionado sobre quem venceria a Copa, Rubinho, claro, apostou na Seleção.
- O Brasil (risos). Aposto um almoço, vai? - brincou.
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